quinta-feira, 23 de dezembro de 2010

Bravas mulheres brasileiras - Brave South-American women - Rose Siepamann

Bravas mulheres brasileiras
                                               (Rose Siepamann)

Quando, em fevereiro a terra danou-se a tremer, no Chile, eu estava tremendo de frio aos pés do majestoso Pikes Peak, no Estado de Colorado. Na academia onde eu estava malhando, havia apenas uma semana, chegavam perguntando se eu era Chilena. As suposições nao me molestavam. Acho que seria bom ser do Chile: economia estabilizada, presidente mulher, excelentes estradas e viadutos, boa produção agrícola, índice de violencia baixo (ops, era baixo). Sim, parece que nao seria difícil ser do Chile, mesmo com tantas inetempéries. Sinto muito irmãos, tao próximos, tão latino-americanos como nós! Sejam fortes!
E... de volta à questão de ser ou não de determinada naturalidade, naturalmente (para usar palavras com o mesmo radical),  e pensando melhor, eu escolheria ser brasileira. Apesar dos pesares, consciente de algumas bobagens que teimam em existir em tempos como esses. Embora a nossa fama, mulheres brasileiras, tenha melhorado muito, ainda sofremos algum preconceito e nosso estigma não é la grandes coisas. Não é motivo suficiente grande para gente querer se vender para outra nação. Embora eu, euzinha, tenha ensaiado algo parecido, ha tempos atrás, e me envergonho de tê-lo feito. Em Portugal, quando eu ia de "comboio", todas as manhãs e tardes de Cascais para Lisboa e vice-versa, há pelo menos uns oito anos atrás, enfeitava o meu sotaque pra que ninguém percebesse que eu era brasileira. As mulheres respeitavam mais, os homens olhavam menos. (Talvez, acreditem, pudesse ser fruto dos meus preconceitos internos e ocultos, ocultos até mesmo para a  minha consciência). Na Espanha nos anos noventas, na ilha onde eu morava, era muito complicado ser brasileira e nao ser prostituta. Eu trabalhava em uma galeria de artes e às vezes alguem me perguntava se eu trabalhava a noite em "algum outro lugar". Só se eu fosse superwoman! Aquela loja consumia quase quatorze horas do meu dia!
Há pouco tempo,  conversava com um americano, conhecido meu, e ele depois de falar sobre muitas coisas perguntou se eu tinha visto o caso de uma moça que foi expulsa de uma universidade de Sao Paulo “and so on”. Que saco de assunto! Todos sabemos sobre esse episódio! Entao ele saiu com essa: This is kind of weird, because in Brazil, everywoman behaves this way. I mean... (Isso eh um pouco estranho, porque no Brasil todas as mulheres vestem roupa curta e sao sexy. Quero dizer...), leitores e leitoras, às vezes eu traduzo inclusive o que foi dito nas entrelinhas, por isso a sentença fica bem maior do que a em inglês. Justificada? Ele parou assim que viu no meu semblante uma certa interrogação...na verdade era desdén:  ele me parecia mais inteligente antes de tocar nisso. I was disapointed! (Estava desapontada) Caros e caras conterrâneas do nosso querido Brasil, eu nao pude discordar em nada com aquele comentário, que é grosseiro, mas que nao deve ofender ninguém, nem as mais puritanas brasileirinhas. Eu, por exemplo, nao sou alguém que usa vestidinhos curtos, na verdade eu tenho pernas de saracura, tampouco tapa-sexo para me divertir no carnaval! E muitas outras mulheres são assim, mais recatadas e não gostam de serem colocadas no mesmo balaio (eu adoro balaios) que estao as mulatas do Rio, as universitarias de mini-saia, as "atrevidas e desbocadas", as bonitinhas que seduzem "gringos inocentes" e vao pra Europa enganadas ou nao para ganhar a vida unindo o util ao agradavel ou... desagradavel.. Eu nem ligo, nesse balaio (que eu adoro) há de tudo um pouco e é divertido ver tanta diversidade (mesmos radicais, again) e nem seria possivel dizer o que eh mais "certo", o que eh mais bonito (se eu tivesse que escolher, votaria nas mulatas, lindissimas, sarradas e com aquela marquinha de biquini.... morro de inveja!!!). Ou o que é mais decente e menos ofensivo aos olhos da sociedade?

 Eu nao ia gastar meu ingles pra argumentar alguma coisa em defesa ou nao da minha classe "injustiçada"? Justiça, também é algo que ...em outra ocasião... falaremos de alguma justiça. Apenas me limitei a dizer: Esse seu pensamento, e de muitos outros americanos, é muito ingenuo. Seria o mesmo que eu dizer que todos os americanos, sem exceção, comem Fast Food (porque assim pensamos nós, brasileiros, muitos, eu pelo menos) e por isso sao gordos. E que ser gordo é feio e ruim e pronto.(  Na hora não me veio nada melhor, poderia falar da pasta de amendoim ou dos donuts). Seria simplificar muito as coisas. Pegar uma amostra pequena e generalizar a partir do resultado que a pesquisa apresenta. You got it?! (Sacou, meu chapa?) Nao sei se ele entendeu, e... eu tinha mais o que fazer. Na verdade esse é um tipo de conversa que ja deu tudo o que tinha que dar. E o  Brasil e os brasileiros(as) vendem uma imagem e se ofendem com os resultados. Por que vender a imagen que nossas mulheres são “gostosas”, embora ignorantes, boazudas que se rendem a qualquer canto ou cantada de gringo….
Quando terminei a conversa com o tal colega de "workout",(malhação) o que me veio a cabeca foi "kind of weir..." (isso voce ja sabe o que eh) “Como somos capazes de trabalhar e moldar tao bem os nossos corpos (o dele era um espetáculo, musculos e mais musculos) e nos custa tanto a parar de dar importância pra coisinhas tao insignificantezinhas e de uma falsa moralidade tão mesquinha?”
                                                                                               Marco, 2010

Brave  South-American women
                                               (Rose Siepamann)

When, in last February, the earth shook in Chile, I was shaking  at the foot of the majestic Pikes Peak, in the state of Colorado, US: I was feeling cold.  In the gym, where I was exercising, I had been attending there only for a week, they started asking me if I was a Chilean woman. Their assumption did not bother me, of course. I thought it was good to be from Chile: a good economy, a female president, very good roads, viaducts, low level of violence (oops it used to be low), good agriculture, Yes, it would not be difficult to be from Chile, even with such bad weathers.  I am very sorry, my close Latin American brothers. Be strong!
And…returning to the question of being or not being of a determined nationality or origin and thinking better, I would choose to be Brazilian. In spite of any burden one may have and being aware of some drawbacks, I would opt to be Brazilian. Although the image of Brazilian women has changed for the better, we still suffer prejudice, the label they put on us often is not good. Even  our brothers from south-American countries, such  as Guyana. This is not however, a reason for us to wish to belong to another nation. I, a simple Brazilian woman  once almost dared to  think of changing my nationality. Now I feel ashamed of letting this thought come to my mind.
In Portugal, when I used the  "comboio" (train) every morning and afternoon from Cascaes to Lisbon  and then the way back, some eight years ago, I tried to adorn my accent in a way people may think I was Portuguese or at least, not a Brazilian.
Women respected me more,  men looked less at me. (Perhaps , believe me, it could be my own internal prejudice, hidden in the deep of my consciousness). In Spain (in pain), in the 1990s, in the Island where I lived, similarly to some other countries , to be introduced as a Brazilian woman, was almost the same as to be introduced as a prostitute. I was working in an Art Gallery and men used to ask me if in the evening I worked in “ another place.” As if I were a superwoman. The work at the art gallery was time and energy consuming.
Not so long ago, am American, acquainted of mine, asked me if I had known the case of a Brazilian woman who was expelled from the University in São Paulo for not dressing adequately.. What a nuisance! All Brazilian know this episode.  Then he said “ This is kind of weird, because in Brazil, everywoman behaves this way. I mean.. they do not dress properly.  (That is …I mean …every woman likes to appear sexy)”. I could feel what he was saying in between the lines…He saw in my face an interrogation mark, in fact  it was an expression of abhorrence, contempt, “ Verachtung”:  at the beginning he seemed to be more intelligent, but through this conversation I realized how laughable he was ( I was disappointed).
Dear South-Americans, dear Guyanese, dear Brazilians, this rude comment by the American is based on some facts. It should not offend any Brazilian, not even the most puritan ones.  I  do not like to dress myself in short skirts or dress, in fact my legs are not so attractive. I would not dress sexy clothes not even during carnival time. And many Brazilian women are like that.  We do not like to be put in the same “hamper” (I like the word hamper)  with any Brazilian mulatto from Rio de Janeiro, with those nice legs who like to seduce the “gringos” and go to Europe, cheated or not, dreaming of leading a wonderful life.  It does not matter. I don’t  care about  this “hamper” . One finds a little of everything in it  and it would even be difficult to say what is right and what is wrong what is correct and what is erroneous, what is more decent and less decent or what is more or less offensive to the eyes of the society.

 I would not   spend my time arguing with the impolite  American just to defend the Brazilian women about from unfair judgment   about the stereotyped Brazilian women. I just said to him: “this is the idea of many Americans, it is very naïve. It is the same as saying that all Americans eat fast food and that is why they are fat and ugly.” It is easy to generalize, to put people in frame. You just take a sample and invent your truth. With one example you say you have the result of your research.  “You got it?!”, I finished.
I don´t know whether he understood or not. In fact, this is a kind of conversation that cannot go further. Brazilians sell their images sometimes and then get offended with the results.  We advertize Brazil with pictures of  “tasty” women, trying sometimes to attract tourists. Of course we pay the price here and there.
 When I finished the conversation with my colleague ( at a Gym) a question came to my mind: “How can we work to shape our bodies so well and we cannot exercise our minds in order to stop prejudices and stereotype? Why can´t we work our mind and spirit in order to stop being so moralist , why can´t we stop judging people according to old labels ?   

3 comentários:

  1. Pois é... O triste no caso da confusão sua com uma mulher chilena ou, ainda, da reprodução do já ultrapassado estereótipo da mulher brasileira pelo tal homem estadounidense é a falta de criticidade, conhecimento e, portanto, esclarecimento. Falta conhecimento de mundo a esta gente que se atém a estereótipos, para além da estreiteza de mente! No mais, acho que os preconceitos, horríveis que são, têm um fundo "reserva de mercado", é uma espécie de "mecanismo de defesa" (às avessas, claro!).
    Gosto, nestes casos, de me lembrar de William Shakespeare e o Caliban...("quem é mesmo inferior? quem aprendeu a sua língua e pode amaldiçoá-lo nela?")...uhm... DE novo, o conhecimento a tomar corpo, e fazer avançar a ocupação do espaço! (sempre pela inteligência!)...

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  2. E só mais isto: há um estudo cuidadoso acerca das migrações (e imigrações) e o trabalho clandestino em Portugal por um pessoal aqui do CES e a constatação só depõe muito contra as mulheres, mesmo: até a década de 1990 um grande contingente de mulheres nordestinas (sobretudo, de PE, AL e CE) vinham ao norte do país, principalmente, à região de Braga para trabalhar em "casas de alterne". A partir do fim desta década e início da atual, o quadro se altera levemente: passam a estar tais mulheres em segundo lugar e "cedem" o primeiro lugar às romenas e demais mulheres do Leste Europeu. Terá contribuído a isso o famoso episódio das "mães de Braga"!!! (ouvi isso num seminário proferido por uma das investigadoras responsáveis pelo estudo). Por certo, os estereótipos nascem daí...

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  3. Gisele,
    Muito obrigado por sua contribuiçao com sua analise sobre o que acontece agora.
    Obrigado por nos ler.

    Abraço

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