sexta-feira, 23 de janeiro de 2015

Artigo de Rose Siepamann: "A Máquina da Felicidade"

A Maquina da Felicidade

Rose Siepamann *

Should a “Happiness machine” be something you can carry in your pocket? Or instead, should be something that carries you in its pocket? One thing he absolutely knew. The “Happiness machine” should be bright! (Ray Bradbury-Dandelion Wine)


O tema da felicidade ‘e complexo e variado. O que me faz feliz quem sabe não fara a outra pessoa feliz?  No entanto, algumas coisas são universais: amor, compreensão, amizade, carinho, respeito e tantas outras emoções quando usadas de maneira correta podem e deveriam nos encher de felicidade. Mas, por não serem palpáveis às vezes fica difícil de reconhecê-las.
Contava meu pai, em um de seus causos antigos, que um homem com grande  fama de cientista depois de um longo debate, com seus companheiros de jogatina e bebida, a respeito de temas como alegria e a tristeza, foi provocado por seus amigos para criar a “Maquina da Felicidade”.
Desde que foi agraciado com o desafio ele não podia mais dormir ou comer direito. Todos os esforços deveriam  concentrar-se na criação daquilo que seria possivelmente a cura para a tristeza.
 Na área de sua casa ele juntou ferramentas, metais, madeira, pedras e outro tanto de materiais que possivelmente poderiam ser usados na construção da tal maquina. Sua esposa e filhos passaram a ser negligenciados em nome do invento. Ele aparecia para comer e dormir algumas vezes. Já não tinha tempo para sentar-se e desfrutar de uma boa conversa, um mate, uma visita à bodega entre outras coisas boas.
Meses passaram-se e do inventor pouco se sabia. Algumas pessoas começaram a imaginar como seria a tal maquina? Seria possível adquiri-la? Quanto custaria afinal? Seria algo muito grande que os abrigaria aumentar o tamanho da casa?
A comoção e impaciência aumentavam! Já se contavam regressivamente os dias de tristeza. 
Certa manha a esposa  encontra o cientista em meio a fios, pedras, martelos, pregos e outro tanto de parafernália. O homem estava imóvel! A cara era como uma chapa de fogão quando começa a avermelhar-se de tão quente. Era como se ele tivesse “engolido o sol”. Quando o tocou Josephina, era o nome da mulher, teve de olhar para a sua mão pra ver se não se haviam queimado os dedos.
 O cientista ardia em uma febre compulsiva.
Infelizmente o conto terminava desapontando a todos, especialmente as crianças!
E o pai dizia: o inventor foi levado para um curador. Mas, já não havia cura para ele! Naquele mesmo dia o inventor morreu.  Ao enterro, pessoas de longe compareceram! Todas, um pouco tímidas, um pouco enlutadas especulavam a respeito da tal máquina. Houve aqueles que começaram a achar que ele escondia a máquina e não faziam cerimonia para esticar um olho pra dentro do caixão pra ver se ele levava pro além, o invento miraculoso. Ou, quem sabe estaria enterrado em algum lugar. Como podia ser que alguém fosse tao egoísta de não querer compartilhar dessa tão poderosa maquina? Certamente ele havia morrido porque não queria que ninguém mais fosse tão feliz como ele! Outros começaram a cogitar a possibilidade de ser o próprio ataúde a maquina da Felicidade! A esposa, em preto, chacoalhava a cabeça em descrença: como podia ser que ninguém atinava que Não Há Maquina pra tal felicidade!
Assim terminava o causo e quase sempre sem reflexão, sem cerimonias a gente pedia pro pai contar outro. Um que “fosse alegre, que eles vivessem felizes para sempre!”
Pra minha surpresa lendo um livro publicado em 1957 do autor norte-americano Ray Bradbury intitulado The Dandelion Wine me deparo com a mesma estória. Um pouco mais sofisticada, um pouco mais esclarecida! O cientista logra criar a Maquina da Felicidade. Não sem perder peso, não sem alguma privação. Nao! Ele sofreu pra criar a tal maquina.
Certo dia a esposa entra na maquina e logo sai em prantos e diz: isto e a coisa mais triste do mundo!
Não, não pode ser! Lamenta o cientista.
-“Sunsets we always liked because they only happen once and go away”[sempre gostamos do pôr do sol porque acontece uma vez e se vai embora] - diz a esposa.
Naquela noite a máquina da Felicidade pega fogo e enche a garagem de chamas. Alguns amigos vem para ajudar. Depois de tudo controlado eles sentam e passam a noite consolando uns aos outros. A perda tinha sido inimaginavelmente grande!
 Na manhã seguinte, o cientista sobe alguns degraus e, como se fosse um gato com fome, espia pra dentro. Um pouco cansado! Vê seus filhos a esposa, todos ocupados. Ele se volta pros amigos e diz:
 "A primeira coisa que eu aprendi na minha vida foi que eu sou um tolo. A ultima, e que eu continuo sendo um tolo! Vocês querem ver a maquina da felicidade? Uma que eu patenteei há alguns anos atrás e que ainda funciona não bem todo o tempo, não! Mas funciona!" 
Eles sobem e olham pra dentro da casa. –"Aqui"- diz o cientista- "fiquem quietos e verão". Eles solenemente esticam seus corpos pra ter melhor visão. La estavam os meninos jogando xadrez, a esposa colocando os talheres na mesa para o café –da- manhã, a menina tirando o vestidinho da boneca. O outro menino brincando com os carrinhos.
Eles podiam sentir o cheiro de pão! De pão de verdade que seria coberto com manteiga de verdade!
O cientista olha para os amigos e diz:" É isto! Ai esta a Maquina da Felicidade".


                        *Escritora e artista plástica. Mora em Colorado – EUA.