segunda-feira, 13 de agosto de 2018

AS CIGARRAS NO PARQUE

Enquanto praticávamos Yoga no Parque em um domingo de manhã ouvia as cigarras soltarem todo o ar dos pulmões praticando seu OHM com uma força que se fazia ouvir em todo o ambiente. Aquele som da cigarra para mim agora significa algo muito mais positivo do que há muitos e muitos anos (na realidade 38 anos atrás) quando este mesmo canto de cigarra soava, lânguido, tristonho e macambúzio em Jaraguá do Sul, na época em que estava no Noviciado. Aquelas tardes calorentas naquela estação do ano traziam um sentimento de inesperança, de não ter certeza sobre o que viria pela frente, que batalha enfrentaria. No meu íntimo eu já sabia talvez que não queria ficar lá, que não era para ser um padre, mas queria aguentar para poder iniciar a Filosofia em Brusque. Tempos passados que as cigarras do parque me trouxeram para o presente num domingo de manhã, no "Parque Circuito" de Porto  Velho. A história da cigarra e da formiga em que a formiga era a heroina e a cigarra a bandida também me vinha à mente. Na infância, quando a professora do primário contava a história, eu achava que aquele canto era realmente um canto que desagradava, algo que poderia, sim gerar a punição. Um canto de uma cigarra vagabunda em face a uma formiga laboriosa.
Agora, porém, ali no "Parque Circuito", praticando exercícios com um grupo de pessoas próximas, a cigarra era tão companheira, tão animal-quase-humano, participando de nossa prática, de nosso esforço para conjuminar com a natureza..
O inseto cantante ficava nos lembrando da  senciência não-humana. de como os não humanos podem também sentir, experimentar dor e alegria...Depois me veio a pergunta: estariam as cigarras sentindo dor ao emitirem seu ohm? Ou estariam somente querendo nos inspirar para um OHM mais perfeito, mais alongado, mais vibrante e mais em contato com a natureza. No meu caso, foi , sim, uma inspiração para pensar neste mundo das cigarras e para me sentir mais como vivemos em harmonia com a natureza e como o canto da cigarra, pode ser uma nobre orquestra sinfônica.
Se por acaso cantarem inspiradas pela dor, seria a dor do fim de suas vidas por isso um canto tão estridente,  uma voz tão "gritante" ? ( Sabemos que há cigarras que atingem  120 decibéis com seu canto estridente). Estariam lamentando  sua chegada à fase adulta  que é bastante curta, poucas semanas apenas?
.Talvez não possa ser tristeza pela chegada dos últimos dias,pois terminado este ciclo, recomeçam....As cigarras retornam todo o verão, elas re-vivem. e aqui outra lição: aprendemos a aceitar as estações, a viver felizes na impermanência, cientes que nada perdura, que tudo caminha, que as estações servem para revigorarmos...e vivermos sem muito apego.