segunda-feira, 31 de dezembro de 2018

2018 – O vagaroso caminho da “loneliness” para a “solitude.” (M. Nenevé)




                               “mesmo vivendo assim não desisti de amar” (Belchior) 

A língua inglesa tem duas palavras para falar de solidão : “loneliness” é  a dor de estar sozinho, o sofrimento por não ter companhia que difere de “solitude” que significa estar só, mas estar satisfeito por estar só, ou até sentir a  glória ou a satisfação de estar consigo mesmo e  sentir-se bem.  Mark Twain, o escritor americano autor de, entre outros, As aventuras de Huckleberry Finn, dizia que “A pior solidão é quando você não está bem consigo mesmo.” É exatamente isso que quero dizer: há um processo para se sair do estado em que não se está bem consigo estando só para um estado em que se está só, mas se pode sentir-se bem consigo. E neste caso não seria gostar de estar seguindo uma vertente egoísta, mas justamente o contrário, sentir-se bem ao estar só por acreditar que há algo importante em si, que há um ser brilhante dentro de si que pode ajudar outras pessoas. A solidão no sentido de solitude pode proporcionar um estado anímico que resulta em benefícios para si próprio e para outras pessoas com quem convivemos no dia a dia. Descobrir dentro de nós mesmos estas coisas requer muita paciência, muito silêncio, muita coragem de estar só. Uma longa peregrinação dentro de nós pode conduzir a uma harmonia corpo, mente, alma que ajuda a entender as buscas da vida.
  O ano de 2018 foi para mim o ano de experimentar este estado de estar só, ano de sofrer a solidão e também, depois de alguma peregrinação, de “curtir” a solidão mais do que em qualquer ano. Talvez possa dizer que foi um ano em que pude crescer com a solidão, ano em que pude de certa forma ter mais intimidade com este estado de isolamento, intimidade comigo mesmo, isto é, atingir certa solitude. Tudo vem acontecendo com certa luta, com alguma resignação por haver a vontade de desenvolver mais a capacidade de me sentir bem estando só. Tem havido tempo em que me sinto mais apreensivo e às vezes quase revoltado, momentos que que tenho pensado que melhor que ficar só é ter qualquer companhia, aceitar qualquer proposta para não sentir falta de ninguém. Tem sido um processo longo e contínuo para acreditar que estar só é necessário a fim de poder ser melhor companhia para quem quer que seja. Muitas vezes me tem me visitado à memória os tempos em que morava em Tubarão, SC. Tempo de estudante de Letras na UNISUL, em que passava os domingos em um quarto de hotel, só, lendo,  estudando, interrompendo a tarde para ver um jogo no estádio Hercílio Luz. Tantos caminhos sozinhos que preenchia com atividades para me permitir sonhar. Hoje a solidão é diferente, mas de certa forma é alimentada com sonhos também. Maldizer a solidão é que não maldigo, embora às vezes ainda queira fugir dela antes de me recompor por completo. Na época de Tubarão, escrevi o poema “Domingo Triste” que, entre outras coisas, dizia assim:
O casal de namorados                                                                                                                                                                                                                                                                   que passa em minha frente                                                                                                                                                                                                                                          é triste
                                                                                                                                                                                                                                                                                                                            tudo é triste
 porque estou triste.
 Neste domingo                                                                                                                                                                                                                                                                       até a chuva que cai                                                                                                                                                                                                                                                                   é pálida e acanhada

Era realmente um estado de solidão que causava dor, que causava ansiedade por uma companhia... Mas nem por isso deixei de escrever, de estudar para me auto-afirmar. Uma solidão do tipo “loneliness”, que me fazia sofrer. Depois daqueles tempos de Tubarão, parecia que era difícil ficar muito só, até porque as convivências não permitiam isso...

Talvez eu possa dizer que o ano de 2018 foi quase uma volta àquele tempo. Iniciei o ano e terminei o ano só, sem ter para quem voltar no fim de um dia de trabalho... Voltar para ninguém, já dizia meu amigo, poeta e cronista, Vítor Hugo Martins, pode ser dolorido. Bom é poder dizer, após um dia de trabalho, que em vez de “voltar para ninguém” se está voltando para sim mesmo.
Importante para mim poder reviver 2018 e  dizer agora, no último dia do ano, que este, seguramente, foi o ano em que muito vagarosamente, muito lentamente, fui transitando da loneliness para a solitude... Processo de osmose, um caminho árduo... Quantas vezes tive que lutar contra um outro eu para dizer que não me interessava mais ficar junto por estar, que não desejava aceitar qualquer convite para simplesmente não ficar sozinho... 
Quantas vezes quase adentrei novamente num falso caminho aparentemente salvador da solidão, mas que acabava mostrando desesperança. Como o lobo da estepe de Herman Hesse parece que às vezes há dois homens lutando dentro de mim e o caminho quase se perde, e tudo quase se perde, aquela conquista de mim mesmo, aquele estado de me sentir bem comigo mesmo, quase vai ao espaço em alguns momentos. Sem dúvida que tenho estado socialmente ativo para participar de filmes, de teatro, de uma vida fora de casa em eventos culturais ou acadêmicos. Mas o anseio por uma companhia ou uma companheira logicamente não tem sido preenchido por isso. O anseio pode se transformar então em dor.

 Porém, minha leve incursão na prática da yoga e na meditação budista vem abrindo meu coração e minha mente para eu poder perceber que há um tesouro em mim mesmo, portanto um grande valor em ficar só. Sim, é bom despertar para  algo de doce,  leve e luminoso na solidão (solitude, neste caso).  Agradeço muito por esta oportunidade de poder abrir uma janela de onde se vê que estar realmente só com pensamentos e sentimentos , pode proporcionar um crescimento no bem estar. Fui aprendendo, estou aprendendo ainda, que a verdadeira solitude, a boa solidão, ajuda-nos a refrescar nossa mente, nosso coração, e aí nos oferece a possibilidade de tirar o melhor que uma mente relaxada e um coração aberto podem conseguir... Solitude, poderíamos dizer é a solidão de alta qualidade, solidão que livra-nos de estímulos externos prejudiciais à  criatividade e que nos impedem de abrir nosso coração. Parece que foi Thomas Edison que disse que os melhores pensamentos surgem quando estamos realmente só e os piores são os gerados em momentos tormentosos em multidão.  
Agradeço, por isso, ao CEBB pela oportunidade dos estudos e da pratica da Yoga. Todos os seres se beneficiam quando estamos bem conosco mesmos. Textos budistas também me sugeriram que a gente descobre na solidão valores que temos e valores que devemos cultivar, desenvolver: a Paz de espirito, o estar por completo (“Onde estiver, estiver esteja por completo” a mensagem que recebi.). Isso não significa, porém, que a gente não busque mais a companhia ou o ato de  partilhar... Aliás, a partilha fica melhor quando descobrimos os valores que temos e queremos trocar com outros.
Algumas leituras neste campo de pensamentos também me encorajaram a perceber o benefício da solidão, de estar bem comigo e iniciar um relacionamento somente quando estiver totalmente bem com minha solidão. 
Assim, a  busca por uma companhia ou por uma companheira não seria, ou não será para fugir da solidão, mas sim, para partilhar um mundo melhor, para beneficiar alguém e ser beneficiado com sua companhia...Poder oferecer algo, poder suavizar uma dor, poder encorajar alguém em seu caminho duvidoso só é possível quando nos conhecemos, quando reconhecemos que podemos ser luz para alguém. Isso promove um refúgio em nós mesmos e ao mesmo tempo a abertura para ajudar outros traz conforto para o espírito.
Quero continuar 2019 com a intenção de procurar dentro de mim mesmo um lugar onde possa viver momentos de solitude, de sentir me bem, um lugar onde eu possa me RENOVAR, onde a estação da primavera ofereça novas flores, novos perfumes, novas cores, crenças e criações. Assim haverá possibilidade de beneficiar outros seres

quinta-feira, 13 de dezembro de 2018

Procura-se cura

Fique até amanhã

"Bleib bei mir bis morgen", diz a cançao. 
E eu grito atrás. 
Blei bei mir bis morgen, 
Durma nos meus braços ,
 como por muitos anos fez.
Espante o vazio desta casa
arrume um jeito talvez
de tocar minha alma
de amenizar a saudade
e raspar a felicidade
......com olhos fechados...

Não quero ouvir
"it´s over now..."
mesmo com tropeços
pode haver para nós...
um novo começo...

um novo "para sempre"
mesmo que termine

por favor , me ensine
a curtir esta ausência..




bleib bei mir bis morgen