sexta-feira, 20 de março de 2015

Sexta-feiraDo I dare? Do I dare?

Sexta feira vem só para a gente sentir que está chegando a hora do descanso, do intervalo, do divertimento. E logo chega o sábado e lembramos aos poucos que há vários trabalhos que fomos empurrando para o fim de seman. Uma tradução aqui, uma ocrreçao de provas lá, algumas leituras de dissertação de mestrado para banca..E aí, quando vemos, o fim de semana já está ocupadíssimo, estamos ocupadíssimos de trabalho e deixamos o divertimento, o cuidado com a saúde, tudo correr por água abaixo, como se vê aqui próximo ao Madeira. Há muito tempo venho me questionando como fazer para realmente descansar no fim de semana. Venho tentando não abrir email, pois ali é uma fonte de trabalho, várias solicitações de explicaçeos, de leituras, de artigos para enviar para periódicos, centenas de "visões e revisões" como diz o poema de T S Eliot..E vou ficando assim "do I dare, do I dare? Do I dare to each a peach?" E acabo não ousando buscar divertimento, buscar descanso. Até as viagens que ouso fazer sempre incluo nelas o trabalho, a apresentação de trabalho acadêmico em congresso. Do I dare? Do I dare? Está na hora de ousar descansar, ousar viajar por viajar, viajar para descansar, para esquecer realmente o trabalho...

Promovendo a Interdisciplinaridade...: (artigo publicado em periódico acadêmico)


PROMOVENDO A INTERDISCIPLINARIDADE POR MEIO DO FAZER PESQUISA: UM EXEMPLO DE METACONHECIMENTO *

     Por Mário Nenevê e Miguel Nenevé



                            Publicado primeiramente na  Revista Sustentabilidade Organizacional - V.2, n.1 fev/2015-jul/2015 
                            páginas 43 a 56


RESUMO
No mundo atual precisamos pensar em alternativas para explorar as competências acadêmicas de um jeito melhor e mais amplo, que possam de alguma forma contribuir para uma sociedade melhor. Necessitamos pensar de um modo aberto para perceber que um curso como Administração de Empresas também envolve pensar a educação, pensar a comunidade, pensar a sociedade onde o educando está inserido e muito mais. Neste artigo mostramos resultados de uma pesquisa na área de administração realizada pelo Curso de Administração de Empresas da Univille, campus de São Bento do Sul com empresas da cidade. Argumentamos que os resultados da pesquisa são importantes, mas o processo da pesquisa é muito relevante também. É o processo que nos auxilia a contextualizar a vantagem do ato de olhar para a formação do estudante sob uma perspectiva multidisciplinar. O cruzamento de várias disciplinas de certa forma acontece quando pensamos em pesquisa e em avanço acadêmico com nossos educandos. Sugerimos que pensar a Interdisciplinaridade nos cursos de administração é fundamental para uma integração do currículo acadêmico de Administração de Empresas com as empresas locais, com os profissionais e com a sociedade. Palavras-chave: Interdisciplinaridade, Administração de Empresas, Educação- Egressos, Empresas – Sociedade.


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1. INTRODUÇÃO
Embora não tenhamos em nosso programa uma gama de assuntos chamados “interdisciplinares”, não podemos negar que nossos cursos, de algum modo procuram promover a interdisciplinaridade. Dependendo da posição e atitude do professor, pode-se oferecer possibilidades para o aluno refletir sobre e atuar no contexto da interdisciplinaridade. Por exemplo, somente ao conduzirmos os alunos a um projeto de pesquisa que vai ouvir as pessoas, que vai coletar dados “vivos” de uma sociedade, já estamos proporcionando uma interdisciplinaridade muito grande. O estudante ao planejar a execução da pesquisa, ao perceber a importância de ouvir os pesquisados já terá, com certeza uma grande lição sobre a importância de ouvir vozes às vezes negligenciadas, de atentar para o que se tem a tendência a não considerar. Como diz a pensadora canadense Mary Louise Pratt, “o discurso torna-se impérvio até que aqueles que são descritos, sejam também ouvidos.“ (p.9)
O assunto da pesquisa, embora seja Administração de Empresas, pode integrar várias disciplinas, como planejamento, educação, ética, metodologia, comunicação entre outros aspectos. São temas que deveriam ser ensinados e discutidos em todas as disciplinas, portanto, conhecíveis em todas as áreas. Uma pesquisa interdisciplinar deve ser na realidade, um ponto chave para o futuro, se pensarmos no desenvolvimento e numa maior capacidade dos estudantes nas várias áreas acadêmicas. Como sustentam Mário Nenevé e Edinéia Woiciekovski (2014) em seu artigo “Refletindo sobre a Educação Acadêmica e seus resultados: egressos do Curso de Administração da UNIVILLE e ocupantes de cargos de chefias nas grandes empresas de São Bento do Sul”, é necessário termos um olhar atento às mudanças:
“tanto em termos institucionais de ensino e a educação de um modo geral, como em termos da promoção do aluno que vem a nós, dando-lhe um “apoderamento” e uma autoconfiança ao exercer sua profissão. É muito importante que, como educadores que somos, pensemos na necessidade de nos adaptarmos às diversas gerações, como também de estarmos conectados com o mercado de trabalho em todo o contexto em que se inserem os egressos.22
22 Revista Igarapé número 3(maio 2014) p. 1- 10.

[Revista Sustentabilidade Organizacional - V.2, n1 fev/2015-jul/2015-p.45]

Promovendo uma pesquisa em que alunos de Administração de Empresas visitem as empresas locais, bem como ex-alunos dos cursos já inseridos no campo de trabalho, confirmamos que a universidade, além do papel de formar um profissional em sua área específica, objetiva também, a formação da pessoa como um todo, um cidadão comprometido que possua valores que sejam fatores de seu desenvolvimento pessoal.
Ao pesquisar as empresas locais e os profissionais de sua área, o estudante vai também refletir sobre a história do curso, sobre a importância de pensar em profissionais que estão no campo de trabalho enfrentando dificuldades muitas não tão aparentes, isso o oportuniza em pensar em sua cidade, sua comunidade e no povo que faz a cidade e a região. Por isso sugerimos que é preciso refletir como a Universidade cresce com os estudantes, com as pesquisas conduzidas por professores com a colaboração dos estudantes que vão a campo e trazem novas sugestões. Tendo os estudantes sob o foco de ensino e aprendizagem, a universidade pode pensar em várias formas de proporcionar crescimento pessoal e envolvimento em assuntos da cidade. Se desejarmos que estes educandos se formem com uma visão abrangente do mercado de trabalho, bem como também possam exercer uma percepção crítica para uma aprendizagem permanente precisamos incentivar a realização de pesquisas que envolvam o seu campo de trabalho. Assim, estaremos ajudando a também a inserir o futuro graduado, no nosso caso em Administração de Empresas, no contexto de uma empresa, com toda a sua dinâmica no mercado competitivo. A experiência da pesquisa, com certeza trará muito mais do que é exigido em conhecimento e habilidades, produzirá muito mais do que informação para os “resultados obtidos”, uma vez que vai deixar o pesquisador muito mais consciente de seu papel como “produtor de conhecimento.”
Pesquisar no campo da administração, como em qualquer campo, vai possibilitar além de coleta de informações, atitudes perante a vida que são muito importantes e educam para a tarefa de administrador, de profissional do setor, de pessoa inserida na sociedade, algo que parece se tornar cada vez mais difícil.
Se a pesquisa, como argumenta M. Nenevé e Woiciekovski, pode sintonizar o que se aprende no meio acadêmico com o meio empresarial e social, uma pesquisa que se propõem a repensar a própria universidade, buscando sempre a melhoria da condição de fornecer uma aprendizagem cada vez mais de qualidade e integrada com o mundo seja na competição de trabalho, é, com certeza, ainda mais relevante.

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2. AS INSTITUIÇÕES DE ENSINO, A APRENDIZAGEM ACADÊMICA INTERDISCIPLINAR POR MEIO DA PESQUISA
Na área acadêmica, existem vários problemas que são importantes, mas também complexos, fenômenos e conceitos que resistem ao entendimento ou resolução quando abordados por uma única disciplina. No caso de Administração de Empresas, uma completa compreensão das empresas, das necessidades de mercado, do sucesso de um administrador, o conhecimento adquirido, tudo tem várias perspectivas sob as quais as empresas devem ser olhadas e analisadas. Em muitos casos percebemos que há um envolvimento de questões morais, éticas, disciplina e administração de tempo, bem como formação acadêmica na área. Logicamente, os professores precisam educar tanto para a questão de experiência disciplinar quanto para a interdisciplinar. A pesquisa proporciona desafios que transcendem as disciplinas, trabalhando na confluência de disciplinas múltiplas ajudando o educando a percorrer trajetórias que não se conformam exatamente com os “padrões” da disciplina ou “da matéria estudada”. Os assuntos interdisciplinares são, assim, vitais para uma educação interdisciplinar que é apregoada por profissionais da educação.
Ademais, as instituições de ensino, como todas as organizações, têm novas necessidades para sobreviver, resultado das profundas mudanças acontecidas em diferentes aspectos da vida humana individual e associada. Segundo Finger (1997 apud RUAS, ANTONELLO e BOFF, 2005) há uma mescla de valores em jogo: os valores antigos recebem uma nova interpretação, assim como novas demandas exigem que as organizações se reestruturem para dar uma resposta adequada às exigências atuais.
A educação tem papel fundamental nessa fase de transformações no mundo do trabalho. Quando se fala na educação brasileira, há diferentes opiniões com relação à educação sob o foco profissional. Há aqueles que defendem uma política educacional voltada para o atendimento das exigências do mercado de trabalho na preparação do profissional e existem os que propugnam por uma formação do sujeito em sua consciência de vida e ser humano, para que este possa ter uma estrutura de adaptação e atuação nas diversas circunstâncias do dia-a-dia. Nosso argumento é que sem percepção do mundo de fato que a pesquisa proporciona, não há um crescimento integral.
De acordo com Pimenta e Anastasiou (2002, p. 173) “a universidade deve atender não só as demandas do mercado, mas tudo que está em seu entorno, e preparar globalmente os estudantes para as complexidades do mercado de trabalho”. Neste sentido, Brito (1996,

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p. 24 apud GHIRALDELLI JUNIOR, 2002) afirma que a função da universidade não é apenas formar profissionais, mas sim ir além da formação técnica. O profissional deve conhecer a teoria, ter senso crítico, saber trabalhar em grupo, ter conhecimento da realidade e consciência de que é transformador dessa mesma realidade.
Vincular os estudos acadêmicos ao trabalho é uma forma de promover interdisciplinaridade, uma vez que o trabalho é uma educação. Como sustenta Ghiraldelli Junior (2002), o trabalho se tornou um aspecto imprescindível à sociedade, e as escolas não podem se fechar para essa realidade, pois a educação escolar deve estar vinculada ao mundo do trabalho. Também nesta linha de pensamento, Vasconcelos (2003) sustenta que o trabalho passou a fazer parte do ambiente escolar, e a instituição escolar passa a refletir mudanças gerais em sua estrutura a partir da adoção desses novos pressupostos. Neste contexto, enquanto a profundidade disciplinar é importante, elas exigem o que Howard Gardner chama de uma “mente sintetizadora” (2006, p.3).
3. A PESQUISA TAMBÉM É UMA FORMA DE REPENSAR O CURSO
Como viemos argumentando, a pesquisa exige que os investigadores, alunos pesquisadores e o próprio professor orientador, se engajem com a comunidade, com as empresas e com os profissionais da área. Isso ajuda a desenvolver uma visão mais completa da conjuntura da cidade, da sociedade em que está inserido, bem como uma atenção para outras necessidades na formação de um profissional completo. Em nosso exemplo, desenvolvemos pesquisa junto às cinco empresas de São Bento do Sul, sendo: Buddmeyer; Condor S.A.; Oxford S.A.; Rudnick S.A. e Tuper S.A. Este trabalho exigiu um contato anterior com a empresa, com os profissionais, com os setores da empresa, contatanto um total de 29 egressos do curso de Administração de Empresas da Univille que ocupam cargos de liderança nas maiores empresas de São Bento do Sul, Santa Catarina.
A primeira etapa da pesquisa foi já uma oportunidade para pensar de forma interdisciplinar: um estudo teórico que abrangeu a Lei das Diretrizes e Bases para o curso de Administração de Empresas; o Projeto Político Pedagógico do curso. Após isso, foi possível chegar a identificar perfil do egresso do curso de Administração. Questões como as competências exigidas no atual mercado de trabalho, a Administração de Empresas, o perfil exigido pelo mercado, bem como as habilidades mais demandadas precisaram ser discutidas e repensadas.

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A elaboração de questionários proporciona aos alunos uma reflexão sobre o conteúdo, um reestudo sobre várias questões relacionadas às disciplinas e sobre a finalidade e funções do curso. Portanto, com base no estudo teórico, foi elaborado um questionário constituído de itens objetivos, relacionando pergunta a pergunta, inserindo questões embasadas no conhecimento, habilidades e em valores e atitudes, a ser respondido de acordo com a escala Lickert, a partir da enumeração de todas as abordagens obtidas respondidas com base no seguinte critério: de 5 a mais importante e 1 a nada significativa. Em seguida, foi realizada a identificação dos egressos, e aplicados os questionários finalizando a primeira etapa da pesquisa.
Coletadas e tabuladas as respostas foi solicitada uma entrevista com os participantes da pesquisa, de forma individual. O objetivo foi de, por meio de um questionário semiestruturado, obter elementos esclarecedores a respeito do resultado obtido na primeira etapa. Com base nos resultados dos questionários e das entrevistas foram analisados os pontos fortes do curso sob a visão dos entrevistados, bem como, das eventuais carências, confrontadas com o que o mercado demanda, sentido pelos pesquisados e com base no perfil do egresso já construído.
4. A PESQUISA E O CONHECIMENTO DO CONTEXTO
A pesquisa possibilita que tanto o professor como o aluno enxergem o mundo vivo, fora da sala de aula, fora de uma realidade acadêmica. Como o educador Paulo Freire (1986) defende, é necessários ir ao mundo dos fatos:
O outro mundo, o mundo dos fatos, o mundo da vida, o mundo no qual os
eventos estão muito vivos, o mundo das lutas, o mundo da discriminação e da crise
econômica (todas essas coisas estão aí), não tem contato algum com os alunos na escola através das palavras que a escola exige que eles leiam. Você pode pensar nessa dicotomia como uma espécie de "cultura do silêncio" imposta aos estudantes. A leitura da escola mantém silêncio a respeito do mundo da experiência, e o mundo da experiência é silenciado sem seus textos críticos próprios. (Medo e ousadia: o cotidiano do professor,
p. 164).
O “mundo dos fatos” não é apenas o resultado das pesquisas revelado pelos dados, mas todo o processo de contato com as empresas. Neste caso, os resultados visíveis da pesquisa junto aos egressos do Curso de Administração de Empresas da Univille campus São Bento do Sul revelam diferenças entre as empresas, o que contribui para o pesquisador

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refletir sobre diversidade.
Por exemplo, para os egressos da Condor S.A. ressaltam-se como pontos fundamentais provenientes do banco acadêmico que contribuíram para a carreira de líder o Curso ter proporcionado: troca de experiência entre os professores e acadêmicos e oportunidade de se expor a aprender. No que se refere ao que faltou ao exercer a carreira de líder e que poderia ter sido obtido na Univille destaca-se a falta de vivências práticas e a aproximação do ambiente da empresa com a Universidade. Isso é muito significativo por confirmar nosso argumento sobre a pesquisa como uma forma de produzir conhecimento e “meta-conhecimento.”
Neste contexto, para os egressos da Oxford S.A. como pontos fundamentais provenientes do banco acadêmico que contribuíram para a carreira de líder tem-se o desenvolvimento de trabalhos em equipe e apresentação para o grupo além da convivência com várias pessoas, vários pensamentos e maneira de agir. Já o que faltou ao exercer a carreira de líder, e que poderia ter sido obtido na Univille, foi aliar a teoria a prática e administrar uma empresa júnior.
Em outro contexto, o da empresa Rudnick S. A. constatamos uma percepção um pouco diferente da anterior quando se refere ao curso oferecido pela UNIVILLE. Para os profissionais que exercem função naquela empresa e que são egressos da universidade, os pontos fundamentais provenientes do banco acadêmico que contribuíram para a carreira de líder foram a troca de experiência e estudos com profissionais de outras empresas e os trabalhos em equipe. Na percepção destes profissionais, o que exige-se em sua carreira profissional e que poderia ter sido obtido na Univille foi o desenvolvimento de liderança, marketing pessoal e o debate e confronto de ideias. Novamente, podemos dizer que faltou uma visão talvez mais interdisciplinar, ao que o próprio ato de pesquisar auxilia.
A empresa Tuper S. A. tem objetivos diferentes e logicamente os seus profissionais apresentaram algumas sugestões e percepções diversas da dos profissionais de outras empresas. Por exemplo, eles apontaram como pontos fundamentais provenientes do banco acadêmico que contribuíram para a carreira de líder a convivência e partilha de experiências profissionais com colegas de classe, professores e palestrantes e o conhecimento, desenvolvimento de habilidade e atitudes.
Neste caso, há a sugestão de que a Univille deveria oferecer mais aulas práticas e maior carga de informação relacionado a vendas, marketing, logística, noções de comércio exterior e línguas, aspectos de relacionamento interpessoal e liderança. Os egressos sugerem

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que sentem falta destas práticas. Aqui percebemos novamente, a sugestão de uma educação mais integral, mais multidisciplinar.
A questão do trabalho em equipe com certeza colabora para discussões e para a abertura de novas ideias. Foi exatamente o que os profissionais da Buddemeyer apontaram. Para estes, egressos do curso de Administração, o ponto fundamental proveniente do banco acadêmico que contribuiu para a carreira de líder foi o desenvolvimento de trabalhos em equipe, planejamentos de rotinas de trabalhos, visitas a outras empresas buscando melhorias para aplicação, bem como as oportunidades de se expor e aprender, praticando de forma a encarar a universidade como um importante laboratório para poder errar e aprender a fim de poder mais tarde fazer corretamente na empresa.
Ao repensar o curso, e questionar a própria formação, também elaboramos uma pergunta sobre o que os ex-alunos sugerem para o curso. Isso com certeza contribui para o próprio corpo docente a formar o curso conforme as necessidades educacionais. Neste sentido, elaboramos a seguinte pergunta:” se fosse lhe dada a oportunidade de fazer o mesmo curso novamente, após a sua experiências, o que recomendaria a instituição ?” As respostas apresentadas apontaram para mais engajamento no “mundo dos fatos.” Por exemplo, um profissional afirmou o seguinte: “Acho que poderia ter mais casos de experiências de profissionais, alguns professores fazem mais outros menos, profissionais poderiam auxiliar os professores, convidando profissionais experientes para debates ou apresentação. Isso tornaria o curso mais dinâmico e relacionada à realidade administrativa” (Egresso 2 - Buddemeyer).
Outras sugestões parecem voltar para a questão de a universidade não se afastar da realidade: “Recomendaria uma maior aproximação com o ambiente empresarial e troca de informações com pessoas que de fato hoje possuem vivência e experiência empresarial, aliando a prática à teoria” (Egresso 3 - Condor S.A.). “Uma matéria extra, onde o aluno tivesse a oportunidade de fazer pequenas consultorias a empresas onde ele não trabalha, poderia ser chamada de „consultoria vivencial prática‟” (Egresso 5 - Condor S.A.).
O discurso da “vivência prática” parece se repetir: “Novamente, dar mais ênfase a vivência na prática, com mais trabalhos e estudos sobre motivos que levam empresas ao sucesso, o que elas tem de diferente para chegarem onde estão” (Egresso 8 - Oxford S.A.). “Foco em melhoria contínua (lean manufacturing), no desenvolvimento de lideranças e na capacidade de motivação com o objetivo de obter ferramentas para a obtenção de resultados; - Importante: planejamento estratégico, orçamentos, visão contábil e administração voltada a

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resultados com o objetivo de saber para onde ir e saber como está progredindo.” (Egresso 9 - Oxford S.A.).
As reações dos profissionais egressos da Univille sugerem que sair do ambiente acadêmico, conhecer a realidade das empresas é relevante para a formação do administrador. Por exemplo, o seguinte comentário torna-se muito relevante: “Disciplina de empreendedorismo. Mais debates e disciplinas práticas e mais profundidade em assuntos de desenvolvimento pessoal e corporativo” (Egresso 12 - Rudnick S. A). Outra sugestão que confirma o que viemos argumentando é a seguinte: “Recomendaria à instituição mais estudos de caso do que acontece na prática no dia-a-dia das empresas, com essas simulações o administrador facilitará seus trabalho de tomar decisões na empresa” (Egresso 15 - Tuper S. A.). Ou a opinião seguinte: “Um maior desenvolvimento de conciliação entre atividades teóricas e atividades práticas as quais poderíamos vivenciar cada vez mais no dia-a-dia das organizações” (Egresso 17 - Tuper S. A.), o que também confirma a necessidade de uma educação mais completa.
Verificou-se que existem aspectos a serem tratados que foram apontados como falhas na Univille, a saber: Para o egresso da Oxford S. A. “o que falta em toda universidade, que é a vivência na prática e também com mais ênfase em técnicas e conceitos, como STP, Lean, Gestão por Processos, Six Sigma, BSC”. Para o egresso da Oxford S. A. faltam conhecimento e vivências práticas. A consciência das diferenças existentes entre as empresas e a percepção da necessidade de trabalhar com estas diferenças, com certeza também pode contribuir muito para o aprendizado do pesquisador. Por exemplo, as percepções variadas dos profissionais devem ser consideradas. Os profissionais da Condor S. A. argumentam que na universidade que há necessidade de mais praticidade laboratorial, exemplo, visitas a empresas diversas. Por outro lado, mais conhecimento de questões relacionadas com Recursos Humanos, legislação, conceitos etc. Isso tudo reflete a necessidade de um pensamento mais Interdisciplinar.
Por outro lado, percebemos na Buddmeyer a sugestão de explorar mais a formação de lideranças, relacionar mais as matérias ao trabalho, alguns professores fazem isso, mas seria ideal que todos conduzissem dessa forma. Novamente, a questão da interdisciplinaridade é ressaltada. Há também a indicação de aplicar a teoria com a vivência, quando o egresso da Tuper nota-se que faltou teoria aplicada a prática.
Ressaltamos que o ganho que os estudantes têm em desenvolver uma apreciação das diferenças entre as disciplinas ofertadas na universidade, a abordagem que se dá para elas e a

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experiência como pesquisador, já significa um saldo positivo para uma educação mais completa.
Percebemos, entre os profissionais pesquisados, repetição sobre a necessidade de aplicar a teoria à vivência, quando o egresso da Tuper afirma que faltou teoria aplicada a prática. Quando os estudantes de certa forma são convidados a deixar de lado suas noções pré-concebidas, as suas posições como “acadêmicos”, para aprenderem com empresários, com profissionais da área, estarão também sendo convidados mais abertamente a adotar uma gama maior de metodologia para seu próprio aprender. O professor ao preparar para a pesquisa pode também explorar questões que promovam uma aprendizagem maior e mais ampla, como por exemplo, respeitar o conhecimento do outro, respeitar a história de trabalho de um profissional que não tem a mesma formação acadêmica, entre outros.
No nosso caso específico as questões preparadas tinham o objetivo de identificar as empresas e os egressos do curso de Administração de Empresas da Univille campus São Bento do Sul, de acordo com o cargo ocupado de liderança de pessoas na empresa em que trabalha, número de pessoas que lidera e o ano de formação no curso. No entanto, muito mais que isso o pesquisador teve que identificar empresas, localizá-las, conhecer seu ramo de atuação e engajar-se com a administração geral e todo o seu contexto. Neste processo há muitos elementos educacionais. Em relação ao cargo ocupado na empresa todos os pesquisados ocupam cargos em que lideram pessoas, e a média de diretamente liderados por egresso é de 28. Quando se descobre que ano de formação no curso, a média dos egressos é do ano 2002, se descobre também que há uma história relativamente curta na empresa, mas que deve ser respeitada uma vez que está engajada com outras experiências anteriores.
As demais questões apresentadas aos egressos que ocupam posições de liderança nas maiores empresas de São Bento do Sul, apresentavam temas relacionados ao Projeto Político Pedagógico, do curso de Administração de Empresas da Univille, as disciplinas que os egressos tiveram durante o período acadêmico, as quais eles deveriam analisar em termos de conhecimento quais as disciplinas que foram mais importantes e que foram aplicadas e contribuíram para suas carreiras. Neste caso, a discussão já estimula uma reflexão também sobre a interdisciplinaridade.
Em termos de atitudes imprescindíveis para ser um bom administrador, quer no sentido pessoal, quer no sentido profissional para que tenha sucesso no desempenho da sua carreira, foram consideradas muito importantes: ética e respeito: 90%; trabalhar em equipe: 86%; proatividade: 79%; comunicação: 79%; disciplina: 66%; relações pessoais e
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networking: 62%; e autoconfiança com: 62%. Se somadas as muito importantes com importantes considerando a ordem decrescente: ética e respeito: 100%; trabalhar em equipe: 100%; disciplina: 100%; proatividade: 100%; comunicação: 100%; autoconfiança: 100%; relações pessoas e networking: 96%.
Com relação às habilidades demandadas pelo mercado contemporâneo, foram consideradas como muito importantes, em ordem decrescente no percentual: desenvolvimento da liderança: 76%; desenvolvimento da flexibilidade: 52% e estabelecer correlações: 48%. Se somadas as muito importantes com importantes considerando ordem decrescente: desenvolvimento de liderança: 100%; desenvolvimento da flexibilidade: 100%; estabelecer correlações: 96% e desenvolvimento de entender a individualidade: 93%.
O que queremos enfatizar é que além dos números das percentagens, isto é dos dados obtidos resultantes da pesquisa, podemos sugerir que a aprendizagem mais significativa pela própria experiência da pesquisa, se trata do ato de deixar a sala de aula e ir para a empresa a fim de ouvir empresários e profissionais e de certa forma abrir-se para o diálogo. A apresentação dos resultados na universidade também oferece possibilidade de outros professores repensarem práticas e interrogarem possibilidades de partilhar conhecimentos. Este processo educacional de engajar professores, profissionais e estudantes é o que devemos salientar também.
5. CONSIDERAÇÕES FINAIS
Engajar os alunos em pesquisa que ajudem-nos a sair do ambiente puramente acadêmico para ir para a comunidade e para seu campo de trabalho, ajuda a desenvolver um conhecimento mais amplo, proporciona mais insights para futuras ações como profissional e com certeza oferece mais habilidades para resolver problemas futuros. Além disso, torna-se uma educação mais eficaz, dá mais autoconfiança ao graduando e, poderíamos dizer, pode despertar mais paixão pela sua área de estudos.
Como argumentamos ao longo do trabalho, a pesquisa ajuda a pensar também de um modo interdisciplinar favorecendo a integração de mais de uma disciplina ao ir para o campo de pesquisa. Neste caso, os resultados da pesquisa junto às empresas de São Bento são muito mais do que aqueles dados apresentados ao final do trabalho. Os resultados serão perceptíveis na educação do graduando com um cidadão que pertence a uma comunidade, a um campo de estudos e trabalho a uma sociedade que tem história e identidade.

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Neste contexto, argumentamos que a interdisciplinaridade alimenta um avanço no conhecimento geral do estudante e possibilita que ele reconheça melhor o seu ambiente, o seu local, a sua história. Além disso, o próprio professor desenvolve mais a consciência da necessidade de ouvir quem não está no meio acadêmico. Poderíamos acrescentar então, que ele desenvolve a humildade de reconhecer que muito se pode aprender com pessoas que vivem em outros ambientes que não apenas o acadêmico.
REFERÊNCIAS
BRITO, Maria do Socorro Taurino. Qualidade e profissionalização: o compromisso do ensino técnico e superior. In: GHIRALDELLI JR., Paulo. O que é pedagogia. 3. ed. São Paulo: Brasiliense, 2002 (Coleção Primeiros Passos).
FREIRE, Paulo. Medo e ousadia: o cotidiano do professor. Medo e ousadia: o cotidiano do professor. Rio de Janeiro: Paz e Terra, 1986
GARDNER, Howard. The Unschooled Mind. How Children think and how school should teach them. N York: Basic Books, 2011
LIKERT, Rensis. A organização humana. São Paulo: Editora Atlas, 1975 (1ª edição original em 1967).
LIKERT, Rensis. Novos padrões de administração. São Paulo: Livraria Pioneiro Editora, 1979 (1ª edição original em 1961).
PIMENTA, Selma Garrido, ANASTASIOU, Lea das G. Camargo. Docência no ensino superior. São Paulo: Cortez, 2002. (Coleção Docência em Formação).
PRATT, m Louise. IMPERIAL EYES: Travel writing and Trasnculturation. London: Routledge, 1992.
ROESCH, Sylvia Maria Azevedo. Projetos de estágio do curso de administração: guia para pesquisas, projetos, estágios e trabalho de conclusão de curso. São Paulo: Atlas, 1999.
RUAS, Roberto Limas; ANTONELLO, Claudia; BOFF, Luiz Henrique (Org). Os novos horizontes da gestão: aprendizagem organizacional e competências. Porto Alegre: Bookman, 200
VASCONCELOS, Maria Lúcia. Apresentação. In: VASCONCELOS, Maria Lúcia, TEODORO, Antônio. Ensinar e aprender no ensino superior: por uma epistemologia da curiosidade na formação universitária. São Paulo: Editora Mackenzie; Cortez, 2003.






*Publicado primeiramente na Revista Sustentabilidade Organizacional (onV.2, n. 1 fev/jul /2015) ISSN 23168900  (p 43-55)


domingo, 8 de março de 2015

A um amigo que partiu

NÃO PERGUNTE POR QUEM OS SINOS DOBRAM

*Miguel Nenevé

                                                       “A resposta é que você está aqui – que a vida existe com i                                                                      dentidade/ que o poderoso jogo continua e você contribuirá com um                                                        verso” (WALT WHITMAN - Leaves of Grass)


Há dois dias, querendo comunicar-me com um amigo, abri o facebook, entrei na sua página. Queria escrever-lhe uma mensagem e saber um pouco de sua vida. Iria perguntar como ele estava indo, já que tinha se mudado para Fortaleza e a conversa “tête à tête” já não era possível. A surpresa que tive, porém, me deixou perplexo e depois macambúzio. Na página do amigo, havia o anúncio de sua morte, postado por seu irmão.
Pedro Walter Zevallos Pollito, que viera do Peru à procura de vida melhor, depois de ter se graduado na Universidade Maior San Marcos, de Lima, tinha morrido. Walter tinha morado em outros países, tinha percorrido mundos à procura de um espaço seu antes de aportar em Porto Velho. A notícia agora dizia que ele se fora para outras dimensões. Fui saber depois, que a morte fora devido a uma broncopneumonia. Ainda reli as mensagens antigas do Professor Walter, que tinha sido nosso colega, professor de espanhol aqui no Núcleo de Estudos Canadenses da universidade. Sim, ele partiu, embora em idade que um professor, profissional das Ciências Humanas não devia partir.
A noticia de sua morte me fez rever um pouco sua trajetória, seu esforço para vencer o sentido de deslocamento. A falta de pertencimento, de ter seu lugar, deixava-o às vezes um ser meio submisso, parecendo que queria agradar as pessoas com quem trabalhava, que precisava convencer a todos que ele seria uma pessoa útil no seu ambiente. Era muito benéfica sua presença, seu trabalho importante e convincente, mas ele parecia estar sempre querendo nos convencer de que ele poderia fazer mais, que poderia satisfazer melhor as necessidades da escola ou do local onde trabalhava. Aceitou trabalhos de professor com contrato emergente em locais distantes do centro mais confortável, no calor e na umidade das beiras do Rio Madeira, como no distrito rondoniense de Calama, onde só se chega pelo rio. Morou em escolas para evitar aluguel e poder viver com certa dignidade. Sua desterritorialização, no entanto, o deixava assim, como se não pertencesse. Não era brasileiro e, quase inacreditavelmente, mesmo aqui no Norte, sofria preconceito por isso, pois viera de um país vizinho, colonizado, sul-americano. Casou com uma brasileira para poder viver melhor, sentir-se mais “locado” e mais focado, mas nem pôde desfrutar muito disso.
Morreu um deslocado, um estrangeiro, um estranho que, para alguns, não pertencia a nós. Afinal, era peruano, não tinha raízes aqui, nem em Fortaleza para onde se deslocou e onde foi morrer. O sino, ao tocar a sua morte, talvez nem tenha chamado a atenção de muitos, já que poucos o conheciam por onde andou.
No entanto, sua morte me faz lembrar o que John Donne, grande poeta e prosador inglês, contemporâneo de Shakespeare , advertia a seus leitores em uma de suas meditações, já no século XVII. Donne dizia que “quando um homem morre, é um pedaço da humanidade que morre”, independentemente se for ou não nosso conhecido. Por isso, argumentava, a morte de qualquer homem nos diminui, uma vez que fazemos parte da humanidade; então “quando ouvir um sino dobrar, não mande perguntar por quem o sino dobra, pois ele dobra por você.”
Com certeza, dobra por todos nós que muitas vezes desprezamos o estranho, o desconhecido, o estrangeiro. Muitas vezes reclamamos que nós, brasileiros, sofremos discriminação em outras terras, e, contudo, alimentamos o mesmo preconceito com nossos irmãos bolivianos, peruanos e agora haitianos que cruzam a fronteira. Por virem de um país mais pobre já há a tendência de olharmos como seres “inferiores”. E perdemos a oportunidade de aprender muito com o exemplo de garra, de luta, de fé, de humanidade e humildade que nos deixam. Como nos deixou Walter Pedro Zevallos. Com certeza, nos sentimos diminuídos com sua morte. Onde estiver, do seu jeito humilde e confiante, Zevallos estará celebrando nossa amizade.
*Miguel Nenevé é professor de Literatura em Língua Inglesa da Universidade Federal de Rondônia. Cronista e contista.