segunda-feira, 14 de dezembro de 2015

Uma chuva está caindo... (M Nenevé)

Enquanto a chuva cai........

Onde está você, em que canto da cidade?
Já vem a chuva que lhe deixa aflita!
Com uma tempestade de lembranças
Meu coração dá saltos, se agita

Que cantos percorre você
Quem ouve os seus  segredos
A chuva que inunda a cidade
Ainda te provoca medo?

O que se ouve entre os trovões
O que ruge em sua memória?
Existe  ainda um clamor
Para rever nossa história?

O  que sussurra o vento ?
O que falam  ruas e becos?
Algum poema de outros tempos
Ou um  outro tipo de eco?

Quem compartilha seu guarda-chuva
E o arco-iris, o que lhe  aponta?
De  que se inunda a sua alma
Qual a Ideia que lhe afronta?
.........................
E  a chuva que continua rugindo
Não é   cantiga de ninar
Só  a tempestade de lembranças
Nenhuma água pode apagar

Uma chuva que cai
machuca alma e mente
Mas estimula nova vida
regando a nova semente.

quinta-feira, 10 de dezembro de 2015

aí vem novamente (M. Nenevé)

De manhã, bem cedinho
lembro: estou sozinho
 vou à procura do sol,
quem sabe  uma surpresa
Entre as nuvens e sombras
e uma profunda incerteza?
.........
Ouço porém seus passos
seu fantasma novamente
a rodear meu quarto
meu corpo, alma e mente...

Os sons
as coisas que deixou
as músicas que ouvíamos
seu espírito solfeja
uma doce canção...
me sopra  nostalgia
do  que foram nossos dias
quase uma assombração
..................................
quando chega a escuridão
Parece que voce  me chama
"é hora de ir para cama" 
......................
Sem seu afago
tudo é vago
e eu viro noctívago

Tentando escrever
com a lua e o vento
os diamantes e a poeira
e todo o sofrimento

Quero jogar
Janela abaixo
meus sentimentos...

mas aí vem novamente
teu fantasma em minha frente...
Eu sinto, você sente?

quarta-feira, 9 de dezembro de 2015

A Fé que faz falta

Falta-me a Fé
que tinha

aquela Fé
que era minha.

E minha Fé
era grande
para mover
montanhas 
de desejos...

No seio da Fé
me alimentava
de sonhos
e de boas inspirações;

Era da fé que surgiam
chamas de sorrisos.
Fé que tinha poder
de fazer brotar  
vida em dias nublados.

A fé era minha
apaixonante razão,
era coragem
e criação
...
Me dei fé, 
porém
Que eu perdia
a Fé.

Sem má fé
A Fé me deixou....
num domingo
de fé,

Tenho agora
 pingos
de fé..

Nem reclamo
nem xingo
Fer-verá a fé
que  virá 
com obras.

Fé para tomar 
o primeiro degrau
da escada...
Fé para seguir
aquela estrada..
.........................

Dou fé;

domingo, 6 de dezembro de 2015

Pensamentando : entre o sonho e o som.... (M Nenevé)

 Pensando nela: entre o sonho e o som
                               (M Nenevé)

“Sozinho no apartamento,
Só ela no pensamento”   Com estes versos Z Teodoro começou a reviver todos os momentos que tinha experimentado com sua amada que acabava de se despedir, indo embora de sua vida, à procura da felicidade mais concreta, mais palpável, mais visível e mais garantida. E ele se perguntava: existe uma felicidade “ garantida.” ?  O que se garante nesta vida? Garante-se a felicidade com certezas e planos bem detalhados e fixos  ou a felicidade está na incerteza, na continua busca, na imperfeição que rodeia todo o ser humano? Cantarolou Belchior: “Meu bem, talvez você possa compreender a minha solidão, meu sonho , minha fúria, e esta pressa de viver, este jeito de deixar sempre de lado a certeza e começar tudo de novo com paixão.”  Poderia começar tudo de novo com paixão, interrogava-se ele. Sentiu vontade de  voltar às cartas antigas, às primeiras trocas de mensagens, a música e todas as minúcias que fizeram com que ela entrasse em seu coração e em seu planeta. Recordou todo o inicio da história, de todos as palavras de sedução, da leitura do Kierkergard, de tudo que enfeitasse o palco de um encontro frutífero, prolífico, agradável eternizado em suas vidas. Sim, um dia estiveram realmente juntos. Caminharam olhando para a mesma direção, dialogaram , creram em dias de felicidade. Felicidade por percorrerem trilhas juntos, olhando um para outro e para a vida “ali em frente.”
Assim ele se embalava em pensamentos que dançavam com lembranças, sonhos e um montão de imaginações. . Em cada canto, em cada virada de olho um sinal dela, um convite para nova dança.  Certa dor presente pela ausência da amada...Uma desejada presença em todas as repartições da alma, do coração e do seu apartamento.  Ainda por capricho para avolumar mais a vontade de vê-la havia as pequenas arrumações, os toques na estética do ambiente,   seus cheiros, perfumes e muito mais. Então começou a cantarolar uma música do Chico Buarque: “a sua lembrança me dói tanto e eu canto para ver, se espanto este mal”. Mas como espantar o mal, pensando nela, escrevendo sobre ela?  .  Sehnsucht, saudades e de repente ouve “ Eisam ohne Dich,( sozinho sem você)   .
Entre sonhos e som continuou a sonambular, meio sorumbático tentando lançar-se em ânimo, querendo alcançar um pensamento que lhe elevasse para outra dimensão, que ajudasse a construir  o dia...Nesta loucura para pensar em outras coisas, entre as vozes da alma é que apareceu a voz de Joan Baez....”No, I never dreamed  you´d leave in  summer...” ...., Não, ele nunca sonhara  que ela o deixaria naquele verão....

 E desistiu de querer parar de pensar nela, sim, que todos os pensamentos fossem para amada! “Que viessem os pensamentos sobre a amada...., pensamentos que se costuravam com todas as suas atividades” gritou , sozinho, no apartamento.... E lembrou-se  de F Pessoa :  ” Para mim, pensar é viver e sentir não é mais que o alimento de pensar.” Então bendisse o  bom pensamento, o da gratidão pelo tempo que conviveram .... Pensar o bom pensamento , pensou ele, pode ajudar a conhecer-se melhor. E pensamentou sobre ela, um pensar bom.. E  era  bom  que vinham todos os sentimentos juntos...., mesmo aqueles  que faziam brotar uma lágrima. Eles anunciavam que ele ainda vivia..