sexta-feira, 7 de abril de 2023

SEXTAS- FEIRAS SANTAS FORAM TANTAS...

 


Tempo de parar para meditar, tempo de cuidar-se, deixando de lado a correria e voltar para dentro, para o interior, para nosso interior e engajar-me no poder da oração que nos conecta conosco mesmos, nossas crenças, nossa vida diária e nossa vontade de melhorar um pouco cada dia... Ao me recolher, ao conectar-me, inevitavelmente, algumas lembranças lá da infância martelam minha mente, sem perturbar a paz...Longos anos atrás.... Tempo em que o ano se dividia para mim em antes e depois da Sexta-Feira Santa, Dobry piątek, um dia muito marcante naquele interior do planalto catarinense.

“Na Sexta-Feira Santa, eu lhe procurei, fui à sua casa, mas não lhe encontrei”, era a música de minha infância e adolescência.” Aquelas sextas férias Santas que em nosso meio familiar, como em toda a comunidade de educação polonesa, nem se ouvia música profana. Ouviam-se, sim,  aquelas músicas que lamentavam a condição humana, de homem pecador. Lembro-me bem de uma música cuja letra dizia “Pecador agora é tempo de pesar e de temor. “ Deixando bem que todos eram pecadores, e que tínhamos que lutar, pois havia, claramente uma briga entre a carne e o espírito (The flesh and the soul como no poema da puritana americana Anne Breadstreet).  Tudo girava em torno do pecado e da penitência. O jejum era certo para toda a família e o dia ficava bem plongado, como aquelas batidas do sino. Deixar de ir à igreja, jamais!!!! Na Vila de Bateias de Baixo, havia adoração desde madrugada. À tarde eram as cerimônias mais longínquas e pesadas. Mas ninguém da vila ousava faltar. Lembro-me de pessoas vindo de longe, agricultores de todos os arredores. Muitos ficavam do lado de fora, porque a igreja local não suportava todos que queriam participar das cerimonias de Jesus Morto. Havia aquelas leituras da paixão, bem completas, prolongadas, com vários leitores representando personagens do evangelho. Depois vinha a via-sacra em  procissão pela estrada de barro ou macadamizada. A cada estação parava-se, para ajoelhar-se nas pedras e pedregulhos soltos da estrada. Eu me perguntava se era só eu que sofria com dores no joelho contra as pedras da estrada. Ninguém sofria de problema no joelho ou na coluna? Ou faziam de conta que se ajoelhavam, mas não tocavam o chão? De alguma forma havia uma fé que lhes foi transmitida. Fé e certa disciplina ou certo temor, afinal era tempo “de pesar e de temor”. O que consideramos hoje práticas não virtuosas, eram pecados  Quando a procissão acabava, já quase no escurecer do dia, entrava-se na igreja para dar um ósculo em Jesus morto e depois, finalmente voltar para casa.

No sábado já se podia cantar qualquer música, podia-se comer carne e não se precisava mais ir à  procissão. Era só preparar o ninho que o coelhinho vinha na certa. Coelhinhos e ovinhos de Chocolate do Buschle e cascas de ovos coloridos recheados de amendoim ou castanha caramelizada. Sempre valia ter passado pela prolongada Sexta-feira Santa.

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