Sexta feira vem só para a gente sentir que está chegando a hora do descanso, do intervalo, do divertimento. E logo chega o sábado e lembramos aos poucos que há vários trabalhos que fomos empurrando para o fim de seman. Uma tradução aqui, uma ocrreçao de provas lá, algumas leituras de dissertação de mestrado para banca..E aí, quando vemos, o fim de semana já está ocupadíssimo, estamos ocupadíssimos de trabalho e deixamos o divertimento, o cuidado com a saúde, tudo correr por água abaixo, como se vê aqui próximo ao Madeira. Há muito tempo venho me questionando como fazer para realmente descansar no fim de semana. Venho tentando não abrir email, pois ali é uma fonte de trabalho, várias solicitações de explicaçeos, de leituras, de artigos para enviar para periódicos, centenas de "visões e revisões" como diz o poema de T S Eliot..E vou ficando assim "do I dare, do I dare? Do I dare to each a peach?" E acabo não ousando buscar divertimento, buscar descanso. Até as viagens que ouso fazer sempre incluo nelas o trabalho, a apresentação de trabalho acadêmico em congresso. Do I dare? Do I dare? Está na hora de ousar descansar, ousar viajar por viajar, viajar para descansar, para esquecer realmente o trabalho...
sexta-feira, 20 de março de 2015
Promovendo a Interdisciplinaridade...: (artigo publicado em periódico acadêmico)
PROMOVENDO A INTERDISCIPLINARIDADE POR MEIO DO FAZER PESQUISA: UM EXEMPLO DE METACONHECIMENTO *
Por Mário Nenevê e Miguel Nenevé
Publicado primeiramente na Revista Sustentabilidade Organizacional - V.2, n.1 fev/2015-jul/2015
páginas 43 a 56
RESUMO
No mundo atual precisamos pensar em alternativas para explorar as competências acadêmicas de um jeito melhor e mais amplo, que possam de alguma forma contribuir para uma sociedade melhor. Necessitamos pensar de um modo aberto para perceber que um curso como Administração de Empresas também envolve pensar a educação, pensar a comunidade, pensar a sociedade onde o educando está inserido e muito mais. Neste artigo mostramos resultados de uma pesquisa na área de administração realizada pelo Curso de Administração de Empresas da Univille, campus de São Bento do Sul com empresas da cidade. Argumentamos que os resultados da pesquisa são importantes, mas o processo da pesquisa é muito relevante também. É o processo que nos auxilia a contextualizar a vantagem do ato de olhar para a formação do estudante sob uma perspectiva multidisciplinar. O cruzamento de várias disciplinas de certa forma acontece quando pensamos em pesquisa e em avanço acadêmico com nossos educandos. Sugerimos que pensar a Interdisciplinaridade nos cursos de administração é fundamental para uma integração do currículo acadêmico de Administração de Empresas com as empresas locais, com os profissionais e com a sociedade. Palavras-chave: Interdisciplinaridade, Administração de Empresas, Educação- Egressos, Empresas – Sociedade.
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1. INTRODUÇÃO
Embora não tenhamos em nosso programa uma gama de assuntos chamados “interdisciplinares”, não podemos negar que nossos cursos, de algum modo procuram promover a interdisciplinaridade. Dependendo da posição e atitude do professor, pode-se oferecer possibilidades para o aluno refletir sobre e atuar no contexto da interdisciplinaridade. Por exemplo, somente ao conduzirmos os alunos a um projeto de pesquisa que vai ouvir as pessoas, que vai coletar dados “vivos” de uma sociedade, já estamos proporcionando uma interdisciplinaridade muito grande. O estudante ao planejar a execução da pesquisa, ao perceber a importância de ouvir os pesquisados já terá, com certeza uma grande lição sobre a importância de ouvir vozes às vezes negligenciadas, de atentar para o que se tem a tendência a não considerar. Como diz a pensadora canadense Mary Louise Pratt, “o discurso torna-se impérvio até que aqueles que são descritos, sejam também ouvidos.“ (p.9)
O assunto da pesquisa, embora seja Administração de Empresas, pode integrar várias disciplinas, como planejamento, educação, ética, metodologia, comunicação entre outros aspectos. São temas que deveriam ser ensinados e discutidos em todas as disciplinas, portanto, conhecíveis em todas as áreas. Uma pesquisa interdisciplinar deve ser na realidade, um ponto chave para o futuro, se pensarmos no desenvolvimento e numa maior capacidade dos estudantes nas várias áreas acadêmicas. Como sustentam Mário Nenevé e Edinéia Woiciekovski (2014) em seu artigo “Refletindo sobre a Educação Acadêmica e seus resultados: egressos do Curso de Administração da UNIVILLE e ocupantes de cargos de chefias nas grandes empresas de São Bento do Sul”, é necessário termos um olhar atento às mudanças:
“tanto em termos institucionais de ensino e a educação de um modo geral, como em termos da promoção do aluno que vem a nós, dando-lhe um “apoderamento” e uma autoconfiança ao exercer sua profissão. É muito importante que, como educadores que somos, pensemos na necessidade de nos adaptarmos às diversas gerações, como também de estarmos conectados com o mercado de trabalho em todo o contexto em que se inserem os egressos.22
22 Revista Igarapé número 3(maio 2014) p. 1- 10.
[Revista Sustentabilidade Organizacional - V.2, n1 fev/2015-jul/2015-p.45]
Promovendo uma pesquisa em que alunos de Administração de Empresas visitem as empresas locais, bem como ex-alunos dos cursos já inseridos no campo de trabalho, confirmamos que a universidade, além do papel de formar um profissional em sua área específica, objetiva também, a formação da pessoa como um todo, um cidadão comprometido que possua valores que sejam fatores de seu desenvolvimento pessoal.
Ao pesquisar as empresas locais e os profissionais de sua área, o estudante vai também refletir sobre a história do curso, sobre a importância de pensar em profissionais que estão no campo de trabalho enfrentando dificuldades muitas não tão aparentes, isso o oportuniza em pensar em sua cidade, sua comunidade e no povo que faz a cidade e a região. Por isso sugerimos que é preciso refletir como a Universidade cresce com os estudantes, com as pesquisas conduzidas por professores com a colaboração dos estudantes que vão a campo e trazem novas sugestões. Tendo os estudantes sob o foco de ensino e aprendizagem, a universidade pode pensar em várias formas de proporcionar crescimento pessoal e envolvimento em assuntos da cidade. Se desejarmos que estes educandos se formem com uma visão abrangente do mercado de trabalho, bem como também possam exercer uma percepção crítica para uma aprendizagem permanente precisamos incentivar a realização de pesquisas que envolvam o seu campo de trabalho. Assim, estaremos ajudando a também a inserir o futuro graduado, no nosso caso em Administração de Empresas, no contexto de uma empresa, com toda a sua dinâmica no mercado competitivo. A experiência da pesquisa, com certeza trará muito mais do que é exigido em conhecimento e habilidades, produzirá muito mais do que informação para os “resultados obtidos”, uma vez que vai deixar o pesquisador muito mais consciente de seu papel como “produtor de conhecimento.”
Pesquisar no campo da administração, como em qualquer campo, vai possibilitar além de coleta de informações, atitudes perante a vida que são muito importantes e educam para a tarefa de administrador, de profissional do setor, de pessoa inserida na sociedade, algo que parece se tornar cada vez mais difícil.
Se a pesquisa, como argumenta M. Nenevé e Woiciekovski, pode sintonizar o que se aprende no meio acadêmico com o meio empresarial e social, uma pesquisa que se propõem a repensar a própria universidade, buscando sempre a melhoria da condição de fornecer uma aprendizagem cada vez mais de qualidade e integrada com o mundo seja na competição de trabalho, é, com certeza, ainda mais relevante.
[Revista Sustentabilidade Organizacional - V.2, n1 fev/2015-jul/2015. p.46]
2. AS INSTITUIÇÕES DE ENSINO, A APRENDIZAGEM ACADÊMICA INTERDISCIPLINAR POR MEIO DA PESQUISA
Na área acadêmica, existem vários problemas que são importantes, mas também complexos, fenômenos e conceitos que resistem ao entendimento ou resolução quando abordados por uma única disciplina. No caso de Administração de Empresas, uma completa compreensão das empresas, das necessidades de mercado, do sucesso de um administrador, o conhecimento adquirido, tudo tem várias perspectivas sob as quais as empresas devem ser olhadas e analisadas. Em muitos casos percebemos que há um envolvimento de questões morais, éticas, disciplina e administração de tempo, bem como formação acadêmica na área. Logicamente, os professores precisam educar tanto para a questão de experiência disciplinar quanto para a interdisciplinar. A pesquisa proporciona desafios que transcendem as disciplinas, trabalhando na confluência de disciplinas múltiplas ajudando o educando a percorrer trajetórias que não se conformam exatamente com os “padrões” da disciplina ou “da matéria estudada”. Os assuntos interdisciplinares são, assim, vitais para uma educação interdisciplinar que é apregoada por profissionais da educação.
Ademais, as instituições de ensino, como todas as organizações, têm novas necessidades para sobreviver, resultado das profundas mudanças acontecidas em diferentes aspectos da vida humana individual e associada. Segundo Finger (1997 apud RUAS, ANTONELLO e BOFF, 2005) há uma mescla de valores em jogo: os valores antigos recebem uma nova interpretação, assim como novas demandas exigem que as organizações se reestruturem para dar uma resposta adequada às exigências atuais.
A educação tem papel fundamental nessa fase de transformações no mundo do trabalho. Quando se fala na educação brasileira, há diferentes opiniões com relação à educação sob o foco profissional. Há aqueles que defendem uma política educacional voltada para o atendimento das exigências do mercado de trabalho na preparação do profissional e existem os que propugnam por uma formação do sujeito em sua consciência de vida e ser humano, para que este possa ter uma estrutura de adaptação e atuação nas diversas circunstâncias do dia-a-dia. Nosso argumento é que sem percepção do mundo de fato que a pesquisa proporciona, não há um crescimento integral.
De acordo com Pimenta e Anastasiou (2002, p. 173) “a universidade deve atender não só as demandas do mercado, mas tudo que está em seu entorno, e preparar globalmente os estudantes para as complexidades do mercado de trabalho”. Neste sentido, Brito (1996,
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p. 24 apud GHIRALDELLI JUNIOR, 2002) afirma que a função da universidade não é apenas formar profissionais, mas sim ir além da formação técnica. O profissional deve conhecer a teoria, ter senso crítico, saber trabalhar em grupo, ter conhecimento da realidade e consciência de que é transformador dessa mesma realidade.
Vincular os estudos acadêmicos ao trabalho é uma forma de promover interdisciplinaridade, uma vez que o trabalho é uma educação. Como sustenta Ghiraldelli Junior (2002), o trabalho se tornou um aspecto imprescindível à sociedade, e as escolas não podem se fechar para essa realidade, pois a educação escolar deve estar vinculada ao mundo do trabalho. Também nesta linha de pensamento, Vasconcelos (2003) sustenta que o trabalho passou a fazer parte do ambiente escolar, e a instituição escolar passa a refletir mudanças gerais em sua estrutura a partir da adoção desses novos pressupostos. Neste contexto, enquanto a profundidade disciplinar é importante, elas exigem o que Howard Gardner chama de uma “mente sintetizadora” (2006, p.3).
3. A PESQUISA TAMBÉM É UMA FORMA DE REPENSAR O CURSO
Como viemos argumentando, a pesquisa exige que os investigadores, alunos pesquisadores e o próprio professor orientador, se engajem com a comunidade, com as empresas e com os profissionais da área. Isso ajuda a desenvolver uma visão mais completa da conjuntura da cidade, da sociedade em que está inserido, bem como uma atenção para outras necessidades na formação de um profissional completo. Em nosso exemplo, desenvolvemos pesquisa junto às cinco empresas de São Bento do Sul, sendo: Buddmeyer; Condor S.A.; Oxford S.A.; Rudnick S.A. e Tuper S.A. Este trabalho exigiu um contato anterior com a empresa, com os profissionais, com os setores da empresa, contatanto um total de 29 egressos do curso de Administração de Empresas da Univille que ocupam cargos de liderança nas maiores empresas de São Bento do Sul, Santa Catarina.
A primeira etapa da pesquisa foi já uma oportunidade para pensar de forma interdisciplinar: um estudo teórico que abrangeu a Lei das Diretrizes e Bases para o curso de Administração de Empresas; o Projeto Político Pedagógico do curso. Após isso, foi possível chegar a identificar perfil do egresso do curso de Administração. Questões como as competências exigidas no atual mercado de trabalho, a Administração de Empresas, o perfil exigido pelo mercado, bem como as habilidades mais demandadas precisaram ser discutidas e repensadas.
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A elaboração de questionários proporciona aos alunos uma reflexão sobre o conteúdo, um reestudo sobre várias questões relacionadas às disciplinas e sobre a finalidade e funções do curso. Portanto, com base no estudo teórico, foi elaborado um questionário constituído de itens objetivos, relacionando pergunta a pergunta, inserindo questões embasadas no conhecimento, habilidades e em valores e atitudes, a ser respondido de acordo com a escala Lickert, a partir da enumeração de todas as abordagens obtidas respondidas com base no seguinte critério: de 5 a mais importante e 1 a nada significativa. Em seguida, foi realizada a identificação dos egressos, e aplicados os questionários finalizando a primeira etapa da pesquisa.
Coletadas e tabuladas as respostas foi solicitada uma entrevista com os participantes da pesquisa, de forma individual. O objetivo foi de, por meio de um questionário semiestruturado, obter elementos esclarecedores a respeito do resultado obtido na primeira etapa. Com base nos resultados dos questionários e das entrevistas foram analisados os pontos fortes do curso sob a visão dos entrevistados, bem como, das eventuais carências, confrontadas com o que o mercado demanda, sentido pelos pesquisados e com base no perfil do egresso já construído.
4. A PESQUISA E O CONHECIMENTO DO CONTEXTO
A pesquisa possibilita que tanto o professor como o aluno enxergem o mundo vivo, fora da sala de aula, fora de uma realidade acadêmica. Como o educador Paulo Freire (1986) defende, é necessários ir ao mundo dos fatos:
O outro mundo, o mundo dos fatos, o mundo da vida, o mundo no qual os
eventos estão muito vivos, o mundo das lutas, o mundo da discriminação e da crise
econômica (todas essas coisas estão aí), não tem contato algum com os alunos na escola através das palavras que a escola exige que eles leiam. Você pode pensar nessa dicotomia como uma espécie de "cultura do silêncio" imposta aos estudantes. A leitura da escola mantém silêncio a respeito do mundo da experiência, e o mundo da experiência é silenciado sem seus textos críticos próprios. (Medo e ousadia: o cotidiano do professor,
p. 164).
O “mundo dos fatos” não é apenas o resultado das pesquisas revelado pelos dados, mas todo o processo de contato com as empresas. Neste caso, os resultados visíveis da pesquisa junto aos egressos do Curso de Administração de Empresas da Univille campus São Bento do Sul revelam diferenças entre as empresas, o que contribui para o pesquisador
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refletir sobre diversidade.
Por exemplo, para os egressos da Condor S.A. ressaltam-se como pontos fundamentais provenientes do banco acadêmico que contribuíram para a carreira de líder o Curso ter proporcionado: troca de experiência entre os professores e acadêmicos e oportunidade de se expor a aprender. No que se refere ao que faltou ao exercer a carreira de líder e que poderia ter sido obtido na Univille destaca-se a falta de vivências práticas e a aproximação do ambiente da empresa com a Universidade. Isso é muito significativo por confirmar nosso argumento sobre a pesquisa como uma forma de produzir conhecimento e “meta-conhecimento.”
Neste contexto, para os egressos da Oxford S.A. como pontos fundamentais provenientes do banco acadêmico que contribuíram para a carreira de líder tem-se o desenvolvimento de trabalhos em equipe e apresentação para o grupo além da convivência com várias pessoas, vários pensamentos e maneira de agir. Já o que faltou ao exercer a carreira de líder, e que poderia ter sido obtido na Univille, foi aliar a teoria a prática e administrar uma empresa júnior.
Em outro contexto, o da empresa Rudnick S. A. constatamos uma percepção um pouco diferente da anterior quando se refere ao curso oferecido pela UNIVILLE. Para os profissionais que exercem função naquela empresa e que são egressos da universidade, os pontos fundamentais provenientes do banco acadêmico que contribuíram para a carreira de líder foram a troca de experiência e estudos com profissionais de outras empresas e os trabalhos em equipe. Na percepção destes profissionais, o que exige-se em sua carreira profissional e que poderia ter sido obtido na Univille foi o desenvolvimento de liderança, marketing pessoal e o debate e confronto de ideias. Novamente, podemos dizer que faltou uma visão talvez mais interdisciplinar, ao que o próprio ato de pesquisar auxilia.
A empresa Tuper S. A. tem objetivos diferentes e logicamente os seus profissionais apresentaram algumas sugestões e percepções diversas da dos profissionais de outras empresas. Por exemplo, eles apontaram como pontos fundamentais provenientes do banco acadêmico que contribuíram para a carreira de líder a convivência e partilha de experiências profissionais com colegas de classe, professores e palestrantes e o conhecimento, desenvolvimento de habilidade e atitudes.
Neste caso, há a sugestão de que a Univille deveria oferecer mais aulas práticas e maior carga de informação relacionado a vendas, marketing, logística, noções de comércio exterior e línguas, aspectos de relacionamento interpessoal e liderança. Os egressos sugerem
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que sentem falta destas práticas. Aqui percebemos novamente, a sugestão de uma educação mais integral, mais multidisciplinar.
A questão do trabalho em equipe com certeza colabora para discussões e para a abertura de novas ideias. Foi exatamente o que os profissionais da Buddemeyer apontaram. Para estes, egressos do curso de Administração, o ponto fundamental proveniente do banco acadêmico que contribuiu para a carreira de líder foi o desenvolvimento de trabalhos em equipe, planejamentos de rotinas de trabalhos, visitas a outras empresas buscando melhorias para aplicação, bem como as oportunidades de se expor e aprender, praticando de forma a encarar a universidade como um importante laboratório para poder errar e aprender a fim de poder mais tarde fazer corretamente na empresa.
Ao repensar o curso, e questionar a própria formação, também elaboramos uma pergunta sobre o que os ex-alunos sugerem para o curso. Isso com certeza contribui para o próprio corpo docente a formar o curso conforme as necessidades educacionais. Neste sentido, elaboramos a seguinte pergunta:” se fosse lhe dada a oportunidade de fazer o mesmo curso novamente, após a sua experiências, o que recomendaria a instituição ?” As respostas apresentadas apontaram para mais engajamento no “mundo dos fatos.” Por exemplo, um profissional afirmou o seguinte: “Acho que poderia ter mais casos de experiências de profissionais, alguns professores fazem mais outros menos, profissionais poderiam auxiliar os professores, convidando profissionais experientes para debates ou apresentação. Isso tornaria o curso mais dinâmico e relacionada à realidade administrativa” (Egresso 2 - Buddemeyer).
Outras sugestões parecem voltar para a questão de a universidade não se afastar da realidade: “Recomendaria uma maior aproximação com o ambiente empresarial e troca de informações com pessoas que de fato hoje possuem vivência e experiência empresarial, aliando a prática à teoria” (Egresso 3 - Condor S.A.). “Uma matéria extra, onde o aluno tivesse a oportunidade de fazer pequenas consultorias a empresas onde ele não trabalha, poderia ser chamada de „consultoria vivencial prática‟” (Egresso 5 - Condor S.A.).
O discurso da “vivência prática” parece se repetir: “Novamente, dar mais ênfase a vivência na prática, com mais trabalhos e estudos sobre motivos que levam empresas ao sucesso, o que elas tem de diferente para chegarem onde estão” (Egresso 8 - Oxford S.A.). “Foco em melhoria contínua (lean manufacturing), no desenvolvimento de lideranças e na capacidade de motivação com o objetivo de obter ferramentas para a obtenção de resultados; - Importante: planejamento estratégico, orçamentos, visão contábil e administração voltada a
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resultados com o objetivo de saber para onde ir e saber como está progredindo.” (Egresso 9 - Oxford S.A.).
As reações dos profissionais egressos da Univille sugerem que sair do ambiente acadêmico, conhecer a realidade das empresas é relevante para a formação do administrador. Por exemplo, o seguinte comentário torna-se muito relevante: “Disciplina de empreendedorismo. Mais debates e disciplinas práticas e mais profundidade em assuntos de desenvolvimento pessoal e corporativo” (Egresso 12 - Rudnick S. A). Outra sugestão que confirma o que viemos argumentando é a seguinte: “Recomendaria à instituição mais estudos de caso do que acontece na prática no dia-a-dia das empresas, com essas simulações o administrador facilitará seus trabalho de tomar decisões na empresa” (Egresso 15 - Tuper S. A.). Ou a opinião seguinte: “Um maior desenvolvimento de conciliação entre atividades teóricas e atividades práticas as quais poderíamos vivenciar cada vez mais no dia-a-dia das organizações” (Egresso 17 - Tuper S. A.), o que também confirma a necessidade de uma educação mais completa.
Verificou-se que existem aspectos a serem tratados que foram apontados como falhas na Univille, a saber: Para o egresso da Oxford S. A. “o que falta em toda universidade, que é a vivência na prática e também com mais ênfase em técnicas e conceitos, como STP, Lean, Gestão por Processos, Six Sigma, BSC”. Para o egresso da Oxford S. A. faltam conhecimento e vivências práticas. A consciência das diferenças existentes entre as empresas e a percepção da necessidade de trabalhar com estas diferenças, com certeza também pode contribuir muito para o aprendizado do pesquisador. Por exemplo, as percepções variadas dos profissionais devem ser consideradas. Os profissionais da Condor S. A. argumentam que na universidade que há necessidade de mais praticidade laboratorial, exemplo, visitas a empresas diversas. Por outro lado, mais conhecimento de questões relacionadas com Recursos Humanos, legislação, conceitos etc. Isso tudo reflete a necessidade de um pensamento mais Interdisciplinar.
Por outro lado, percebemos na Buddmeyer a sugestão de explorar mais a formação de lideranças, relacionar mais as matérias ao trabalho, alguns professores fazem isso, mas seria ideal que todos conduzissem dessa forma. Novamente, a questão da interdisciplinaridade é ressaltada. Há também a indicação de aplicar a teoria com a vivência, quando o egresso da Tuper nota-se que faltou teoria aplicada a prática.
Ressaltamos que o ganho que os estudantes têm em desenvolver uma apreciação das diferenças entre as disciplinas ofertadas na universidade, a abordagem que se dá para elas e a
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experiência como pesquisador, já significa um saldo positivo para uma educação mais completa.
Percebemos, entre os profissionais pesquisados, repetição sobre a necessidade de aplicar a teoria à vivência, quando o egresso da Tuper afirma que faltou teoria aplicada a prática. Quando os estudantes de certa forma são convidados a deixar de lado suas noções pré-concebidas, as suas posições como “acadêmicos”, para aprenderem com empresários, com profissionais da área, estarão também sendo convidados mais abertamente a adotar uma gama maior de metodologia para seu próprio aprender. O professor ao preparar para a pesquisa pode também explorar questões que promovam uma aprendizagem maior e mais ampla, como por exemplo, respeitar o conhecimento do outro, respeitar a história de trabalho de um profissional que não tem a mesma formação acadêmica, entre outros.
No nosso caso específico as questões preparadas tinham o objetivo de identificar as empresas e os egressos do curso de Administração de Empresas da Univille campus São Bento do Sul, de acordo com o cargo ocupado de liderança de pessoas na empresa em que trabalha, número de pessoas que lidera e o ano de formação no curso. No entanto, muito mais que isso o pesquisador teve que identificar empresas, localizá-las, conhecer seu ramo de atuação e engajar-se com a administração geral e todo o seu contexto. Neste processo há muitos elementos educacionais. Em relação ao cargo ocupado na empresa todos os pesquisados ocupam cargos em que lideram pessoas, e a média de diretamente liderados por egresso é de 28. Quando se descobre que ano de formação no curso, a média dos egressos é do ano 2002, se descobre também que há uma história relativamente curta na empresa, mas que deve ser respeitada uma vez que está engajada com outras experiências anteriores.
As demais questões apresentadas aos egressos que ocupam posições de liderança nas maiores empresas de São Bento do Sul, apresentavam temas relacionados ao Projeto Político Pedagógico, do curso de Administração de Empresas da Univille, as disciplinas que os egressos tiveram durante o período acadêmico, as quais eles deveriam analisar em termos de conhecimento quais as disciplinas que foram mais importantes e que foram aplicadas e contribuíram para suas carreiras. Neste caso, a discussão já estimula uma reflexão também sobre a interdisciplinaridade.
Em termos de atitudes imprescindíveis para ser um bom administrador, quer no sentido pessoal, quer no sentido profissional para que tenha sucesso no desempenho da sua carreira, foram consideradas muito importantes: ética e respeito: 90%; trabalhar em equipe: 86%; proatividade: 79%; comunicação: 79%; disciplina: 66%; relações pessoais e
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networking: 62%; e autoconfiança com: 62%. Se somadas as muito importantes com importantes considerando a ordem decrescente: ética e respeito: 100%; trabalhar em equipe: 100%; disciplina: 100%; proatividade: 100%; comunicação: 100%; autoconfiança: 100%; relações pessoas e networking: 96%.
Com relação às habilidades demandadas pelo mercado contemporâneo, foram consideradas como muito importantes, em ordem decrescente no percentual: desenvolvimento da liderança: 76%; desenvolvimento da flexibilidade: 52% e estabelecer correlações: 48%. Se somadas as muito importantes com importantes considerando ordem decrescente: desenvolvimento de liderança: 100%; desenvolvimento da flexibilidade: 100%; estabelecer correlações: 96% e desenvolvimento de entender a individualidade: 93%.
O que queremos enfatizar é que além dos números das percentagens, isto é dos dados obtidos resultantes da pesquisa, podemos sugerir que a aprendizagem mais significativa pela própria experiência da pesquisa, se trata do ato de deixar a sala de aula e ir para a empresa a fim de ouvir empresários e profissionais e de certa forma abrir-se para o diálogo. A apresentação dos resultados na universidade também oferece possibilidade de outros professores repensarem práticas e interrogarem possibilidades de partilhar conhecimentos. Este processo educacional de engajar professores, profissionais e estudantes é o que devemos salientar também.
5. CONSIDERAÇÕES FINAIS
Engajar os alunos em pesquisa que ajudem-nos a sair do ambiente puramente acadêmico para ir para a comunidade e para seu campo de trabalho, ajuda a desenvolver um conhecimento mais amplo, proporciona mais insights para futuras ações como profissional e com certeza oferece mais habilidades para resolver problemas futuros. Além disso, torna-se uma educação mais eficaz, dá mais autoconfiança ao graduando e, poderíamos dizer, pode despertar mais paixão pela sua área de estudos.
Como argumentamos ao longo do trabalho, a pesquisa ajuda a pensar também de um modo interdisciplinar favorecendo a integração de mais de uma disciplina ao ir para o campo de pesquisa. Neste caso, os resultados da pesquisa junto às empresas de São Bento são muito mais do que aqueles dados apresentados ao final do trabalho. Os resultados serão perceptíveis na educação do graduando com um cidadão que pertence a uma comunidade, a um campo de estudos e trabalho a uma sociedade que tem história e identidade.
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Neste contexto, argumentamos que a interdisciplinaridade alimenta um avanço no conhecimento geral do estudante e possibilita que ele reconheça melhor o seu ambiente, o seu local, a sua história. Além disso, o próprio professor desenvolve mais a consciência da necessidade de ouvir quem não está no meio acadêmico. Poderíamos acrescentar então, que ele desenvolve a humildade de reconhecer que muito se pode aprender com pessoas que vivem em outros ambientes que não apenas o acadêmico.
REFERÊNCIAS
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FREIRE, Paulo. Medo e ousadia: o cotidiano do professor. Medo e ousadia: o cotidiano do professor. Rio de Janeiro: Paz e Terra, 1986
GARDNER, Howard. The Unschooled Mind. How Children think and how school should teach them. N York: Basic Books, 2011
LIKERT, Rensis. A organização humana. São Paulo: Editora Atlas, 1975 (1ª edição original em 1967).
LIKERT, Rensis. Novos padrões de administração. São Paulo: Livraria Pioneiro Editora, 1979 (1ª edição original em 1961).
PIMENTA, Selma Garrido, ANASTASIOU, Lea das G. Camargo. Docência no ensino superior. São Paulo: Cortez, 2002. (Coleção Docência em Formação).
PRATT, m Louise. IMPERIAL EYES: Travel writing and Trasnculturation. London: Routledge, 1992.
ROESCH, Sylvia Maria Azevedo. Projetos de estágio do curso de administração: guia para pesquisas, projetos, estágios e trabalho de conclusão de curso. São Paulo: Atlas, 1999.
RUAS, Roberto Limas; ANTONELLO, Claudia; BOFF, Luiz Henrique (Org). Os novos horizontes da gestão: aprendizagem organizacional e competências. Porto Alegre: Bookman, 200
VASCONCELOS, Maria Lúcia. Apresentação. In: VASCONCELOS, Maria Lúcia, TEODORO, Antônio. Ensinar e aprender no ensino superior: por uma epistemologia da curiosidade na formação universitária. São Paulo: Editora Mackenzie; Cortez, 2003.
*Publicado primeiramente na Revista Sustentabilidade Organizacional (onV.2, n. 1 fev/jul /2015) ISSN 23168900 (p 43-55)
domingo, 8 de março de 2015
A um amigo que partiu
NÃO PERGUNTE POR QUEM OS SINOS DOBRAM
*Miguel Nenevé
“A resposta é que você está aqui – que a vida existe com i dentidade/ que o poderoso jogo continua e você contribuirá com um verso” (WALT WHITMAN - Leaves of Grass)
Há dois dias, querendo comunicar-me com um amigo, abri o facebook, entrei na sua página. Queria escrever-lhe uma mensagem e saber um pouco de sua vida. Iria perguntar como ele estava indo, já que tinha se mudado para Fortaleza e a conversa “tête à tête” já não era possível. A surpresa que tive, porém, me deixou perplexo e depois macambúzio. Na página do amigo, havia o anúncio de sua morte, postado por seu irmão.
Pedro Walter Zevallos Pollito, que viera do Peru à procura de vida melhor, depois de ter se graduado na Universidade Maior San Marcos, de Lima, tinha morrido. Walter tinha morado em outros países, tinha percorrido mundos à procura de um espaço seu antes de aportar em Porto Velho. A notícia agora dizia que ele se fora para outras dimensões. Fui saber depois, que a morte fora devido a uma broncopneumonia. Ainda reli as mensagens antigas do Professor Walter, que tinha sido nosso colega, professor de espanhol aqui no Núcleo de Estudos Canadenses da universidade. Sim, ele partiu, embora em idade que um professor, profissional das Ciências Humanas não devia partir.
A noticia de sua morte me fez rever um pouco sua trajetória, seu esforço para vencer o sentido de deslocamento. A falta de pertencimento, de ter seu lugar, deixava-o às vezes um ser meio submisso, parecendo que queria agradar as pessoas com quem trabalhava, que precisava convencer a todos que ele seria uma pessoa útil no seu ambiente. Era muito benéfica sua presença, seu trabalho importante e convincente, mas ele parecia estar sempre querendo nos convencer de que ele poderia fazer mais, que poderia satisfazer melhor as necessidades da escola ou do local onde trabalhava. Aceitou trabalhos de professor com contrato emergente em locais distantes do centro mais confortável, no calor e na umidade das beiras do Rio Madeira, como no distrito rondoniense de Calama, onde só se chega pelo rio. Morou em escolas para evitar aluguel e poder viver com certa dignidade. Sua desterritorialização, no entanto, o deixava assim, como se não pertencesse. Não era brasileiro e, quase inacreditavelmente, mesmo aqui no Norte, sofria preconceito por isso, pois viera de um país vizinho, colonizado, sul-americano. Casou com uma brasileira para poder viver melhor, sentir-se mais “locado” e mais focado, mas nem pôde desfrutar muito disso.
Morreu um deslocado, um estrangeiro, um estranho que, para alguns, não pertencia a nós. Afinal, era peruano, não tinha raízes aqui, nem em Fortaleza para onde se deslocou e onde foi morrer. O sino, ao tocar a sua morte, talvez nem tenha chamado a atenção de muitos, já que poucos o conheciam por onde andou.
No entanto, sua morte me faz lembrar o que John Donne, grande poeta e prosador inglês, contemporâneo de Shakespeare , advertia a seus leitores em uma de suas meditações, já no século XVII. Donne dizia que “quando um homem morre, é um pedaço da humanidade que morre”, independentemente se for ou não nosso conhecido. Por isso, argumentava, a morte de qualquer homem nos diminui, uma vez que fazemos parte da humanidade; então “quando ouvir um sino dobrar, não mande perguntar por quem o sino dobra, pois ele dobra por você.”
Com certeza, dobra por todos nós que muitas vezes desprezamos o estranho, o desconhecido, o estrangeiro. Muitas vezes reclamamos que nós, brasileiros, sofremos discriminação em outras terras, e, contudo, alimentamos o mesmo preconceito com nossos irmãos bolivianos, peruanos e agora haitianos que cruzam a fronteira. Por virem de um país mais pobre já há a tendência de olharmos como seres “inferiores”. E perdemos a oportunidade de aprender muito com o exemplo de garra, de luta, de fé, de humanidade e humildade que nos deixam. Como nos deixou Walter Pedro Zevallos. Com certeza, nos sentimos diminuídos com sua morte. Onde estiver, do seu jeito humilde e confiante, Zevallos estará celebrando nossa amizade.
Pedro Walter Zevallos Pollito, que viera do Peru à procura de vida melhor, depois de ter se graduado na Universidade Maior San Marcos, de Lima, tinha morrido. Walter tinha morado em outros países, tinha percorrido mundos à procura de um espaço seu antes de aportar em Porto Velho. A notícia agora dizia que ele se fora para outras dimensões. Fui saber depois, que a morte fora devido a uma broncopneumonia. Ainda reli as mensagens antigas do Professor Walter, que tinha sido nosso colega, professor de espanhol aqui no Núcleo de Estudos Canadenses da universidade. Sim, ele partiu, embora em idade que um professor, profissional das Ciências Humanas não devia partir.
A noticia de sua morte me fez rever um pouco sua trajetória, seu esforço para vencer o sentido de deslocamento. A falta de pertencimento, de ter seu lugar, deixava-o às vezes um ser meio submisso, parecendo que queria agradar as pessoas com quem trabalhava, que precisava convencer a todos que ele seria uma pessoa útil no seu ambiente. Era muito benéfica sua presença, seu trabalho importante e convincente, mas ele parecia estar sempre querendo nos convencer de que ele poderia fazer mais, que poderia satisfazer melhor as necessidades da escola ou do local onde trabalhava. Aceitou trabalhos de professor com contrato emergente em locais distantes do centro mais confortável, no calor e na umidade das beiras do Rio Madeira, como no distrito rondoniense de Calama, onde só se chega pelo rio. Morou em escolas para evitar aluguel e poder viver com certa dignidade. Sua desterritorialização, no entanto, o deixava assim, como se não pertencesse. Não era brasileiro e, quase inacreditavelmente, mesmo aqui no Norte, sofria preconceito por isso, pois viera de um país vizinho, colonizado, sul-americano. Casou com uma brasileira para poder viver melhor, sentir-se mais “locado” e mais focado, mas nem pôde desfrutar muito disso.
Morreu um deslocado, um estrangeiro, um estranho que, para alguns, não pertencia a nós. Afinal, era peruano, não tinha raízes aqui, nem em Fortaleza para onde se deslocou e onde foi morrer. O sino, ao tocar a sua morte, talvez nem tenha chamado a atenção de muitos, já que poucos o conheciam por onde andou.
No entanto, sua morte me faz lembrar o que John Donne, grande poeta e prosador inglês, contemporâneo de Shakespeare , advertia a seus leitores em uma de suas meditações, já no século XVII. Donne dizia que “quando um homem morre, é um pedaço da humanidade que morre”, independentemente se for ou não nosso conhecido. Por isso, argumentava, a morte de qualquer homem nos diminui, uma vez que fazemos parte da humanidade; então “quando ouvir um sino dobrar, não mande perguntar por quem o sino dobra, pois ele dobra por você.”
Com certeza, dobra por todos nós que muitas vezes desprezamos o estranho, o desconhecido, o estrangeiro. Muitas vezes reclamamos que nós, brasileiros, sofremos discriminação em outras terras, e, contudo, alimentamos o mesmo preconceito com nossos irmãos bolivianos, peruanos e agora haitianos que cruzam a fronteira. Por virem de um país mais pobre já há a tendência de olharmos como seres “inferiores”. E perdemos a oportunidade de aprender muito com o exemplo de garra, de luta, de fé, de humanidade e humildade que nos deixam. Como nos deixou Walter Pedro Zevallos. Com certeza, nos sentimos diminuídos com sua morte. Onde estiver, do seu jeito humilde e confiante, Zevallos estará celebrando nossa amizade.
*Miguel Nenevé é professor de Literatura em Língua Inglesa da Universidade Federal de Rondônia. Cronista e contista.
quinta-feira, 19 de fevereiro de 2015
Publicado em: 13/02/15
Docente da UNIR publica capítulo em livro da Editora Rodopi (Amsterdam e New York)

O livro tem contribuições de vários autores de diferentes partes do mundo, especialmente pesquisadores europeus. Oferece desde uma visão geral da literatura e cultura caribenha até uma leitura mais aprofundada de obras específicas. Os autores discutidos variam desde Derek Walcott (prêmio Nobel de 1994) até o autor brasileiro Mário de Andrade – que é o autor discutido por Miguel Nenevé.
Em seu capítulo, o professor Nenevé argumenta que o livro da caribenha Pauline Melville é uma reescrita da obra Macunaíma, do modernista brasileiro Mário de Andrade.
“Este livro é muito mais que um livro sobre o caribe: ele enfatiza a dimensão global e a relevância dos Estudos Caribenhos no século XXI. Seguindo cuidadosamente as encruzilhadas das literaturas e culturas, ele mostra novas rotas, permitindo-nos repensar nossos mundos”, diz Ottmar Ette, da Universidade de Potsdam – Alemanha.
O livro está catalogado no International Standard Book Number (ISBN) sob os números 978-90-420-3885-1 (versão impressa) e 978-94-012-1168-0 (e-book).
Para mais informações sobre a obra, acesse: http://www.rodopi.nl/senj.asp?BookId=TEXTXET+77.
Fonte: UNIR
sexta-feira, 23 de janeiro de 2015
Artigo de Rose Siepamann: "A Máquina da Felicidade"
A Maquina
da Felicidade
Rose Siepamann *
Should a
“Happiness machine” be something you can carry in your pocket? Or instead,
should be something that carries you in its pocket? One thing he absolutely
knew. The “Happiness machine” should be bright! (Ray Bradbury-Dandelion Wine)
O tema da felicidade ‘e complexo e variado. O que me faz feliz quem sabe
não fara a outra pessoa feliz? No
entanto, algumas coisas são universais: amor, compreensão, amizade, carinho,
respeito e tantas outras emoções quando usadas de maneira correta podem e
deveriam nos encher de felicidade. Mas, por não serem palpáveis às vezes fica
difícil de reconhecê-las.
Contava meu pai, em um de seus causos antigos, que um homem com
grande fama de cientista depois de um
longo debate, com seus companheiros de jogatina e bebida, a respeito de temas
como alegria e a tristeza, foi provocado por seus amigos para criar a “Maquina
da Felicidade”.
Desde que foi agraciado com o desafio ele não podia mais dormir ou comer
direito. Todos os esforços deveriam concentrar-se na criação daquilo que seria
possivelmente a cura para a tristeza.
Na área de sua casa ele juntou
ferramentas, metais, madeira, pedras e outro tanto de materiais que
possivelmente poderiam ser usados na construção da tal maquina. Sua esposa e
filhos passaram a ser negligenciados em nome do invento. Ele aparecia para
comer e dormir algumas vezes. Já não tinha tempo para sentar-se e desfrutar de
uma boa conversa, um mate, uma visita à bodega entre outras coisas boas.
Meses passaram-se e do inventor pouco se sabia. Algumas pessoas
começaram a imaginar como seria a tal maquina? Seria possível adquiri-la?
Quanto custaria afinal? Seria algo muito grande que os abrigaria aumentar o
tamanho da casa?
A comoção e impaciência aumentavam! Já se contavam regressivamente os
dias de tristeza.
Certa manha a esposa encontra o
cientista em meio a fios, pedras, martelos, pregos e outro tanto de
parafernália. O homem estava imóvel! A cara era como uma chapa de fogão quando
começa a avermelhar-se de tão quente. Era como se ele tivesse “engolido o sol”.
Quando o tocou Josephina, era o nome da mulher, teve de olhar para a sua mão
pra ver se não se haviam queimado os dedos.
O cientista ardia em uma febre
compulsiva.
Infelizmente o conto terminava desapontando a todos, especialmente as
crianças!
E o pai dizia: o inventor foi levado para um curador. Mas, já não havia
cura para ele! Naquele mesmo dia o inventor morreu. Ao enterro, pessoas de longe compareceram!
Todas, um pouco tímidas, um pouco enlutadas especulavam a respeito da tal máquina.
Houve aqueles que começaram a achar que ele escondia a máquina e não faziam
cerimonia para esticar um olho pra dentro do caixão pra ver se ele levava pro
além, o invento miraculoso. Ou, quem sabe estaria enterrado em algum lugar. Como
podia ser que alguém fosse tao egoísta de não querer compartilhar dessa tão
poderosa maquina? Certamente ele havia morrido porque não queria que ninguém
mais fosse tão feliz como ele! Outros começaram a cogitar a possibilidade de
ser o próprio ataúde a maquina da Felicidade! A esposa, em preto, chacoalhava a
cabeça em descrença: como podia ser que ninguém atinava que Não Há Maquina pra
tal felicidade!
Assim terminava o causo e quase sempre sem reflexão, sem cerimonias a
gente pedia pro pai contar outro. Um que “fosse alegre, que eles vivessem
felizes para sempre!”
Pra minha surpresa lendo um livro publicado em 1957 do autor
norte-americano Ray Bradbury intitulado The Dandelion Wine me deparo com a
mesma estória. Um pouco mais sofisticada, um pouco mais esclarecida! O
cientista logra criar a Maquina da Felicidade. Não sem perder peso, não sem
alguma privação. Nao! Ele sofreu pra criar a tal maquina.
Certo dia a esposa entra na maquina e logo sai em prantos e diz: isto e
a coisa mais triste do mundo!
Não, não pode ser! Lamenta o cientista.
-“Sunsets
we always liked because they only happen once and go away”[sempre gostamos do pôr do sol porque acontece uma vez e se vai embora] - diz a esposa.
Naquela noite a máquina da Felicidade pega fogo e enche a garagem de
chamas. Alguns amigos vem para ajudar. Depois de tudo controlado eles sentam e
passam a noite consolando uns aos outros. A perda tinha sido inimaginavelmente
grande!
Na manhã seguinte, o cientista
sobe alguns degraus e, como se fosse um gato com fome, espia pra dentro. Um pouco
cansado! Vê seus filhos a esposa, todos ocupados. Ele se volta pros amigos e diz:
"A primeira coisa que eu aprendi na minha vida foi que eu sou um tolo. A ultima,
e que eu continuo sendo um tolo! Vocês querem ver a maquina da felicidade? Uma
que eu patenteei há alguns anos atrás e que ainda funciona não bem todo o
tempo, não! Mas funciona!"
Eles sobem e olham pra dentro da casa. –"Aqui"- diz o
cientista- "fiquem quietos e verão". Eles solenemente esticam seus corpos pra ter
melhor visão. La estavam os meninos jogando xadrez, a esposa colocando os
talheres na mesa para o café –da- manhã, a menina tirando o vestidinho da
boneca. O outro menino brincando com os carrinhos.
Eles podiam sentir o cheiro de pão! De pão de verdade que seria coberto
com manteiga de verdade!
O cientista olha para os amigos e diz:" É isto! Ai esta a Maquina da
Felicidade".
*Escritora
e artista plástica. Mora em Colorado – EUA.
sábado, 11 de outubro de 2014
Indrasena Kanchelra escreve sobre a escolha do Prêmio Noble de Literatura: Patrick Modiano
Patrick Modiano bags 2014 Nobel prize in
Literature
Indrasena
Kancharla
While the ways of God remain
mysterious, the Swedish Academy Nobel Committee’s judgements often baffle many
intellectuals. The Swedish Academy chose to honour the 69 year old French novelist Patrick Modiano with
the award of the 2014 Nobel Prize in Literature bypassing the claims of more
deserving and better known writers like
the Kenyan born writer-activist Ngugi wa Thiong’o and the Japanese writer Haruki
Murakami.
South African Doris Lessing (Nobel
Prize winner of 2007 for Literature)responded irreverently to the announcement
of the Nobel Committee’s award of the Prize to her saying that it was rather too late. On the
contrary, Modiano’s immediate response to the announcement of the Nobel Prize
to him on 9th October, 2014, is in terms of total disbelief. He
said, “ I didn’t expect it at all.”
According to the spokesperson of the
Swedish Academy, Patrick Modiano was awarded the Nobel Prize “for the art of
memory with which he has evoked the most ungraspable human destinies and
uncovered the life-world of the occupation.” Modiano was born in the suburb of
Paris in 1945 to a Jewish-Italian businessman Albert Modiano and a Belgian
actress, Louisa Colpijn. He married Dominique Zehrfuss in 1970, and they have
two daughters Zina and Marie. The Nobel Laureate declared that he would
dedicate the Prize to his three-year old grandson as the latter happens to be a
Swedish national.
The public shy author who shuns
interviews maintains, “I do read English pretty well, I can’t speak it. It is
difficult for me.” Only about half a dozen of his novels are available in
English translation, and he is known only in limited circles in the USA and the
UK and almost unfamiliar in most parts of the world including literary circles.
He authored about 30 books most of which are novels. His novels are very brief
and they are in the range of about 125 pages. He also wrote children’s books
and film scripts.
Modiano’s novels are deeply
entrenched in the “trauma of the Nazi occupation” of France and his own
neglected childhood. When he sought his father’s help for the publication of
his first novel, the former called the police. It was a rude shock to him. He
has been able to capture imaginatively the trauma of the ordinary French people
during the War. Modiano’s first novel, La Place de l’etoile, (The Star’s Place), published in 1968, is an indictment of the holocaust, the brutal
killing of the Jews by Hitler. Since then he has been publishing novel after
novel almost once in every two years. The English title of his latest novel
published in 2014 is “So you don’t get lost in the neighbourhood.”
Modiano is obsessively concerned in
his novels with the issues of Germany’s occupation of France during World
war-II, the evolution of Paris since the end of the War, and the Algerian war
of Independence. Moreover, his focus is on ‘memory’, ‘oblivion’, ‘guilt’, ‘identity and loss’ in the post-War
scenario. The locale of his literary
world is Paris itself although his characters often “try to dodge real or
perceived threats by escaping to the French Riviera or Switzerland.”
His literary productions span four
decades and a half. Some of his novels available in English translation are:
Night Rounds(1969/1971), Ring Roads (1972/1974), Missing Person (1978/1980),
Memory Lane(1981), A Trace of Malice (1984/1988), Honeymoon (1990/1992), Out of
the Dark (1998), Dora Bruder (1997/1999) as The Search Warrant (2000). Although
some of his novels won for him literary fame and a few awards, his “Missing
Person” sold less than 2500 copies in the USA.
Modiano’s fictional corpus draws
heavily from his own “autobiographical
foundation.” He is also known for collecting materials for his works from interviews,
articles in newspapers and his own jottings of several decades. His novel “Dora
Bruder” is structured on the sordid story of a teen ager Dora Bruder, a
holocaust victim in Paris. The novel was translated in to English as
“Search Warrant.” The novelist’s quest for Dora Bruder, the 15 year old girl
victim of the holocaust, is in terms of his recurring ‘memory’ motif.
Patrick Modiano admits often that he was
writing the same book year after year because of his inescapable obsession with
the recurrent theme of the Nazi occupation of France during the War and the
impact of the psychic wounds of the holocaust on the Jews.
Modiano is curious to go to Stockholm
to accept the Nobel honour in December, 2014. He is not free from ‘stage fear’
if he is required to address public meetings. Answering the query whether he would
deliver a speech on the great occasion, he remarked: “As long as it is about
reading a prepared text, that doesn’t scare me.”
Peter Englund, the permanent
secretary of the Swedish Academy, himself observed in a post-announcement
interview that people outside France do not know much about Patrick Modiano or his
work. He maintains: “He is well known in France, but not anywhere else.” By
virtue of the award of the 2014 Noble Prize in Literature, Patrick Modaino is
bound to acquire the status of an international celebrity since “nothing
succeeds like success.”
The writer, Professor of English and
Dean Faculty of Arts, (Retired), Kakatiya University, Warangal), can be reached
at <indrapapa@yahoo.com>
terça-feira, 2 de setembro de 2014
Ao OTÁVIO NENEVÉ NA
SUA DESPEDIDA.
(Miguel
Nenevé)
Para homenagear seu Otavio
Peço a Deus que me ilumine
Com palavras adequadas
Neste momento sublime
Pra dizer com gratidão
O que a alma exprime.
Contar a vida de um homem
Com história exemplar
Só com a Graça divina,
Que vamos implorar
Para trazer conteúdo
No que vamos narrar.
Foi no dia oito de outubro
Pelas graças do divino
Que no fundo do Pirizal
Nascia mais um menino
Batizaram de Otávio
O esperto pequenino
Este fato aconteceu
Noventa e dois anos atrás
E o menino cresceu
Com a bênçao dos seus pais
Com a saúde que tem
Quem cultiva a paz
Aprendeu lições de
vida
Da natureza ao redor
O respeito aos outros
O verdadeiro valor
Das coisas bem simples
Que se vê no interior
Educou-se na religião
Como Deus nos ensina
A crer sempre no amor
Com esperança divina
A nunca deixar de lado
A sagrada doutrina
Também se mostrou
Ser menino inteligente
Na escola que freqüentou
Aprendeu de repente
Deixando a sua professora
Bem surpresa e contente.
Aprendeu a lida da roça
Na luta do cotidiano
A jogar a semente certa
Em cada época do ano
A respeitar a natureza
E seu ciclo soberano.
Havia a época de arar
De semear, de colher
De transportar a colheita
Para conseguir vender
Às vezes com sacrifício
Sem um lucro qualquer
Sabia que os animais
Também merecem respeito
E tratava cada um
Respeitando seu jeito
Até o gato preguiçoso
Era bom em seu conceito.
Cavalgar aos domingos
Prática quase esquecida
Ele fazia com estilo
E era coisa divertida
Tendo cavalo muito bom
Vencia grandes corridas.
Um dia no coral da Igreja
Conheceu uma menina
Muita linda e graciosa
Elegante e muito fina
Que seria a companheira
A amável Cristina
Com as bênçãos de Deus
Na igreja se casaram
Alegres e com grande fé
A religião praticaram
Confirmando o amor
Que sempre demonstraram
Assim ia aumentando
Também a responsabilidade
Logo tinha que aprender
O dom da paternidade
E os cuidados para educar
Com amor e seriedade
Os filhos foram nascendo
Trazendo muito alegria
Também preocupação
Para o seu dia-a-dia
Com a saúde, a educação
E tudo mais que viria
Com ajuda da Cristina
Nunca desanimou
E com muito
disciplina
Mas também com amor
E com exemplo de fé
A todos educou
Passou por dificuldades
Por cruciais momentos
Momentos de tempestades
De perigosos ventos
Mas nunca desanimou
Nem mostrou desalento.
Não enfraquece nunca
Quem no amor se embasa
Mesmo quando os filhos crescem
Formando-se, criando asas
E um por um vao saindo
Da convivência da casa
Mas o Otávio com
Cristina
Souberam deixar unida
A família que criaram
Com fé bem definida
Por isso que ali a paz
Foi sempre bem vivida.
Perdeu um dia a esposa
Pensou perder a esperança
Passou por duros momentos
Quase abalou a confiança
Mas aprendeu também a lição
De viver de sua lembrança
Outra tempestade forte
Foi perder uma filha
Parece que se cortava
Um pedaço da família
Mas a fé no superior
Mais forte ainda brilha.
Foi escrevendo versos
Pondo rimas na vida
Que driblou sua dor
No peito escondida
O seu verso era motivo
De adiar sua partida
Escrevia seus poemas
Na tristeza e nas festas
Eram palavras simples
Mas claras e honestas
Coisas que o coração
Na pureza manifesta.
Contou muitas histórias
Em uma simples linguagem
Dos esforços pela vida
Exemplos de fé e coragem
Que a vida é para ser vivida
Como breve passagem
Ainda ressoam suas
rimas
Ainda ecoa sua poesia
As suas estrofes da vida
Nos fazem companhia
Semeando a lição
De viver em harmonia...
Continuas assim rimando
Agora em outra dimensão
Seus versos repercutem
Também em nosso coração
E serão para sempre
Fontes de inspiração...
Nossos passos rimarão
Com seus e da
Cristina
Para entoar a coragem
Que a graça ilumina
Com um coro de anjos
E a presença divina.
Adeus, diremos então?
Melhor não dizer nada
E sentir sua presença
Em nossa caminhada
Honrar tudo o que fez
Na sua exemplar jornada.
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