Tempo de parar para meditar, tempo
de cuidar-se, deixando de lado a correria e voltar para dentro, para o
interior, para nosso interior e engajar-me no poder da oração que nos conecta conosco
mesmos, nossas crenças, nossa vida diária e nossa vontade de melhorar um pouco
cada dia... Ao me recolher, ao conectar-me, inevitavelmente, algumas lembranças
lá da infância martelam minha mente, sem perturbar a paz...Longos anos atrás....
Tempo em que o ano se dividia para mim em antes e depois da Sexta-Feira Santa, Dobry
piątek, um dia muito marcante naquele interior do planalto catarinense.
“Na Sexta-Feira Santa, eu lhe
procurei, fui à sua casa, mas não lhe encontrei”, era a música de minha
infância e adolescência.” Aquelas sextas férias Santas que em nosso meio
familiar, como em toda a comunidade de educação polonesa, nem se ouvia música
profana. Ouviam-se, sim, aquelas músicas
que lamentavam a condição humana, de homem pecador. Lembro-me bem de uma música
cuja letra dizia “Pecador agora é tempo de pesar e de temor. “ Deixando bem que
todos eram pecadores, e que tínhamos que lutar, pois havia, claramente uma
briga entre a carne e o espírito (The flesh and the soul como no poema da puritana
americana Anne Breadstreet). Tudo girava
em torno do pecado e da penitência. O jejum era certo para toda a família e o
dia ficava bem plongado, como aquelas batidas do sino. Deixar de ir à igreja,
jamais!!!! Na Vila de Bateias de Baixo, havia adoração desde madrugada. À tarde
eram as cerimônias mais longínquas e pesadas. Mas ninguém da vila ousava faltar.
Lembro-me de pessoas vindo de longe, agricultores de todos os arredores. Muitos
ficavam do lado de fora, porque a igreja local não suportava todos que queriam
participar das cerimonias de Jesus Morto. Havia aquelas leituras da paixão, bem
completas, prolongadas, com vários leitores representando personagens do
evangelho. Depois vinha a via-sacra em procissão pela estrada de barro ou macadamizada.
A cada estação parava-se, para ajoelhar-se nas pedras e pedregulhos soltos da
estrada. Eu me perguntava se era só eu que sofria com dores no joelho contra as
pedras da estrada. Ninguém sofria de problema no joelho ou na coluna? Ou faziam
de conta que se ajoelhavam, mas não tocavam o chão? De alguma forma havia uma
fé que lhes foi transmitida. Fé e certa disciplina ou certo temor, afinal era
tempo “de pesar e de temor”. O que consideramos hoje práticas não virtuosas,
eram pecados Quando a procissão acabava,
já quase no escurecer do dia, entrava-se na igreja para dar um ósculo em Jesus
morto e depois, finalmente voltar para casa.
No sábado já se podia cantar
qualquer música, podia-se comer carne e não se precisava mais ir à procissão. Era só preparar o ninho que o coelhinho
vinha na certa. Coelhinhos e ovinhos de Chocolate do Buschle e cascas de ovos
coloridos recheados de amendoim ou castanha caramelizada. Sempre valia ter
passado pela prolongada Sexta-feira Santa.
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