Quando estava fazendo meu pós-doutorado na York University,
em Toronto, no Canada, recebi da diretora da Biblioteca, Mrs. Hofman, um
documento sobre a Amazônia que pertencia ao seu pai. Esse documento, é na
realidade, um relato, que seu pai, médico, produziu durante o tempo em que
esteve aqui, como médico entomologista servindo os Estados Unidos, como “soldado
da borracha”. Vamos então ao contexto:O ataque Japonês a Pearl Harbour nos Estados Unidos em 1941
é um evento marcante na Segunda Guerra Mundial, como nos ensinam os livros de
Historia. O pesquisador Pedro Henrique Rodrigues, no seu texto “O ataque
japonês a Pearl Harbour” (acessível em
https://www.infoescola.com/segunda-guerra/ataque-japones-a-pearl-harbor/), afirma que o ataque “marcou definitivamente a
participação do Japão e dos Estados Unidos na Segunda Guerra Mundial. Em 7 de
dezembro de 1941, no início da manhã os japoneses bombardearam a base norte
americana de Pearl Harbor, no Havaí.” Os
textos de historia nos informam que foi um acontecimento sangrento e violento,
ocasionando a morte de mais de dois mil americanos e mais de mil feridos, além
de navios destruídos.
Quem diria, no entanto, que este fato iria influenciar a
Amazônia, os seringueiros, o preço da borracha e os seringalistas? Sim, o fato
causou uma grande influência na Amazonia. Vejamos: após o Japão bombardear
Pearl Harbor e ocupar a maior parte do sudeste da Ásia, o presidente Franklin
Roosevelt recorreu ao Brasil e a outros países da América Latina América a fim de tomar medidas urgentes para aumentar a
produção de borracha natural para os Aliados . Era necessário produzir borracha
que naquele momento não poderia ser comprada da Malásia devido à escassez do produto
na América do Norte e Europa. As Plantações do Sudeste Asiático
responsáveis por mais de 90% de fornecimento de borracha para atender as
necessidades, vitais para a guerra moderna, não estavam mais acessíveis para os
aliados. Como diz a pesquisadora Xenia Yumovic Wilkinson (2009), em sua tese
de doutorado “TAPPING THE AMAZON FOR VICTORY:BRAZIL’S “BATTLE FOR RUBBER” OF
WORLD WAR II”,
Na ausência de
alternativas fontes de borracha, especialistas norte-americanos alertaram que o
sucesso da guerra Aliada esforço poderia depender da produtividade dos
seringueiros que extraíam o látex do seringueiras (principalmente Hevea
brasiliensis) em florestas tropicais da Amazônia. Com mais de 60 por cento da Bacia Amazônica dentro do
território nacional do Brasil, persuadindo os governo lançar uma campanha para
aumentar a produção de borracha na Amazônia que se tornava prioridade para os
Estados Unidos. (p. 13)[tradução minha]
Após o momento de oscilação entre apoiar a Alemanha ou os Estados Unidos para extrair o
máximo de benefícios econômicos de cada país, o governante brasileiro, Presidente Getúlio Vargas, convenceu-se em
1941 que os Aliados ganhariam a guerra. Vargas
embarcou em um programa de cooperação próxima, mas informal, com os
Estados para apoiar os Aliados e reduzir a influência da
Alemanha no Brasil. Na esteira do ataque a Pearl Harbor, o Brasil entrou em uma
aliança formal com os Estados Unidos sob os Acordos de Washington de março de
1942.
A aliança da Segunda Guerra Mundial entre o Brasil e os
Estados Unidos englobava ampla gama de cooperação militar, política e
econômica, desde a construção de uma cadeia
de bases aéreas norte-americanas ao longo da costa Nordeste para a produção
estratégica matérias-primas para os Aliados, o mais importante dos quais era a
borracha. Frank McCain, wm seu estudo da evolução da aliança de guerra entre o
Brasil e os Estados Unidos, A Aliança
Brasil-Estados Unidos 1937-1945 (Princeton: Princeton University Press, (1995)
argumenta que os interesses do Brasil na
negociação de uma aliança com os Estados Unidos foram três: obter financiamento dos Estados Unidos para a
nascente indústria siderúrgica do Brasil e outros projetos de desenvolvimento
industrial; reforçar a defesa das costas
brasileiras de ataques de submarinos alemães e proteger seu flanco sul de
potenciais ataques pela Argentina; e ganhar um papel de liderança nas
organizações internacionais do pós-guerra, incluindo um lugar permanente
cobiçado no Conselho de Segurança das Nações Unidas.
McCain acredita que a
aliança deixou o Brasil mais dependente dos Estados Unidos. Amazônia, o local
onde o renascimento de uma indústria de borracha, um produto tirado da
selva, acontecia em tempo de guerra,
dependia de financiamento e preços garantidos da borracha do governo
norte-americano.
Nos termos dos Acordos, o Brasil lançou um programa de cinco
anos (1942-1947) para produção da seringa que era material estratégico para os Estados Unidos em sua luta contra
Alemanha. Assim, o presidente Vargas lançou a “Batalha pela
Borracha” anunciando seu plano de “alistar” e “mobilizar” milhares de “soldados
da borracha” para “Marchar” para as florestas tropicais da Amazônia e extrair a
borracha selvagem para apoiar os Aliados.
Neste contexto, da “Batalha pela Borracha”, participantes globais,
nacionais e regionais se cruzaram e interagiram com as sociedades locais no
ambiente único da Amazônia, criando novas dinâmicas que influenciaram o curso
do desenvolvimento da Amazônia por várias décadas. Por um breve, mas intenso período, seringueiros, assessores técnicos norte-americanos, a elite da
borracha da Amazônia (seringalistas), o governo de Getúlio Vargas e o governo americano
de Roosevelt ligaram-se em uma empresa
para acelerar a produção de borracha para apoiar a causa dos Aliados na Segunda Guerra.
É neste contexto histórico que entram os documentos de
Hafstad que mencionei no início. Os
relatos do americano George Hafstad , doados pela biblioteca da York University
, em Toronto Canadá, são o objeto de
nosso interesse, pois podem nos informar muito sobre o período na Amazônia.
O
entomologista deixou um relatório de suas atividades que acredito merecer nossa atenção. É de nosso interesse analisar a visão do médico americano sobre a Amazônia, seu discurso sobre
o outro, o seringueiro, o seringalista,
o amazônida e o brasileiro de um modo geral.
Os esforços em conjunto dos governos brasileiro e norte-americano para produzir seringa e dominar o comércio de borracha da região colaboraram para uma visão menos colonialista do americano em relação ao Brasil? O autor do relato se posiciona em algum momento sobre como seringueiros migrantes lutaram para se adaptar ao árduo trabalho em um ambiente desconhecido? Ou ele trata o brasileiro de um modo geral, desconsiderando a migração de vários nordestinos para o norte? Há alguma referência às sociedades indígenas fronteiriças? Este ambiente estranho para o americano não produziu estranheza para quem já vivia na Amazônia há muitos e muitos anos?
O que percebe-se de imediato é que sua missão era fazer com que "a produção de borracha" fosse mais efetiva. O fato de muitos seringueiros abandonarem suas atividades para se dedicarem a trabalhos menos árduos e mais lucrativos realmente preocupava o entomologista. Até ponto, no entanto, algo pode ser feito para beneficiar os seringueiros e fazer com que ele tivesse ânimo em trabalhar na seringa?
Os esforços em conjunto dos governos brasileiro e norte-americano para produzir seringa e dominar o comércio de borracha da região colaboraram para uma visão menos colonialista do americano em relação ao Brasil? O autor do relato se posiciona em algum momento sobre como seringueiros migrantes lutaram para se adaptar ao árduo trabalho em um ambiente desconhecido? Ou ele trata o brasileiro de um modo geral, desconsiderando a migração de vários nordestinos para o norte? Há alguma referência às sociedades indígenas fronteiriças? Este ambiente estranho para o americano não produziu estranheza para quem já vivia na Amazônia há muitos e muitos anos?
O que percebe-se de imediato é que sua missão era fazer com que "a produção de borracha" fosse mais efetiva. O fato de muitos seringueiros abandonarem suas atividades para se dedicarem a trabalhos menos árduos e mais lucrativos realmente preocupava o entomologista. Até ponto, no entanto, algo pode ser feito para beneficiar os seringueiros e fazer com que ele tivesse ânimo em trabalhar na seringa?
Estas são algumas perguntas dignas de serem investigadas.
Por isso, creio, não podemos perder a oportunidade de traduzir o documento , analisa-lo
e publicá-lo, como uma forma de socializar conhecimento sobre a Amazonia.
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