Ze Teodoro ,sentado na cadeira velha, confortavelmente, olhava para o lago. Um pássaro perseguia uma cigarra. Será o fim da cigarra? Dizem que a cigarra ressuscita, morre e volta para viver e cantar novamente. "Tantas vezes me mataram, tantas vezes eu morri e estou aqui", lembrou do texto de Renato Teixeira. Sim, é possível que a gente como a cigarra ressuscite e apareça um dia por aqui. Por isso não deveria haver apego às coisas, à vida, às pessoas....E lembrou-se novamente de seu amor que foi embora, da dor que ainda sentia. Por que a gente se apega, por que a gente não aceita que as pessoas se vão? E por que a gente fica tentando acontecer uma volta forçada, sabendo que a pessoa quer ir..."Let her go" tinha dito uma amiga. Mas como é difícil deixar M ir, seguir seu caminho, fluir ocmo uma água do rio..... Por quê? Talvez seria justamente por não tê-la tratado como deveria.
Zé Teodoro foi perseguindo e se aprofundando neste caminho de pensamento. Talvez a maior dificuldade de desapegar-se é não ter dado à pessoa que partiu o tratamento que ele merecia. O fato de não ter aproveitado os bons momentos, de não ter tido mais sensibilidade com a sua voz, de não ter dado atenção aos seus interesses...Este torna-se, no fim, o maior conflito na alma, a maior dificuldade de deixar a pessoa seguir seu caminho e desparecer na cura da vida. Este é no fundo, o sentimento de culpa. A pessoa vai e quem fica só, mergulha em pensamentos, em reflexões e certo arrependimento, ruminando dentro de si que poderia ter dado um tratamento melhor. Questiona ainda se a pessoa poderia ter ido com mágoa, com dor...E a gente acaba querendo que ela não carregue esta dor, esta mágoa, esta lembrança ruim do tempo em que estava conosco.
Depois de um tempo fica se perguntado: por que ela não quer nem falar comigo.? Se ao menos ouvisse para eu pedir desculpas, pedir perdão, para mostrar mostrar que eu tenho um coração sensível, que também se parte.
O apego, parece ser, pensava o Zé Teodoro, o resultado do não aproveitar enquanto teve a oportunidade de viver plenamente. Quer viver, quer recuperar quando a pessoa já se foi.
E M tinha ido. No início ele achava que era uma ida para voltar novamente, mas as horas, os dias, os meses iam confirmando: ela não retornaria. E ele não conseguia pensar em algo diferente , em pessoa diferente. Todos os dias os pensamentos sobre ela ocupavam longas reflexoes e irrespondíveis perguntas.
Será que as águas do lago lá no fundo teriam uma resposta ?
A cigarra que cantava já fora engolida pelo pássaro. Ja fora para outra vida. Iria ressuscitar novamente, talvez....Então, ele tinha confiança. Seu amor por M iria ressuscitar em outra pessoa. Mas até quando esta angústia por sua ausência ocuparia sua alma? Até quando a não aceitação de sua partida iria lhe cortar o coração? Lembrou de um salmo, seria o salmo treze, que nos tempos em que era religioso lia e repetia: "Até quando , esconderás de mim o teu rosto?" Até quando ele estaria consultando sua alma para descobrir como tirar a tristeza do coração?
Levantou-se. Nao tinha resposta. Foi ocupar-se de outras coisas, estas reflexões lhe deixavam meio macambúzio. Tinha que disfarçar com atividades diversas.
Nenhum comentário:
Postar um comentário