Devagar, porque não sei
Onde quero ir Há entre mim e os meus
passos
Uma divergência instintiva
Há entre quem sou e estou F Pessoa – A de
Campos)
Vamos então, mana,
percorrer a Jatuarana !
Subir a longa avenida,
sentir
o que há de vida.
Agora no fim da tarde
quando o sol já não arde
Nestas calçadas
estreitas
imprecisas ou mal feitas
conhecer seus vários
odores
talvez sentir as dores
A pessoa fatigada
que já não sente nada
,
É pura
anestesia.
como o Eliot advertia:
a cabeça na bandeja.
ah, que nunca seja
uma canção de medo
nem aquela do Alfredo .
Não, não revelarei segredo
e nem pretendo fingir
quero apenas sentir
a vida tenra e crua
desta minha rua
sem missão ou
promessa
nem pressão ou pressa
apreciar apenas os preços
de lojas e seus
adereços
Ouvir o chamado de sereias
“olha as blusas, calças, meias
- "chegue!”, a
moça diz sorridente
cansada, meio inconsciente
- Não, agora não preciso
mas
gostei de seu sorriso",
um perfume de vestido
me deixa meio perdido
subindo na
contra-mão
ruas e rimas sem razão?
Passa um casal apressado
conversando animado.
várias vozes, velhas melodias
nas múltiplas pizzarias
- Hoje não, na semana que
vem
se eu estiver com alguém.
Outro rosto anestesiado
espera o ônibus lotado
Um
cão perambulante
caminha mais vibrante:
há um resto de comida
na sacola
esquecida,
ah, a hora é chegada
de soltar lixo na calçada,
Entre atores e atrizes
há os loucos felizes
Imitando uma autoridade
importante na cidade.
Sobras de
vidas
ruas varridas vidas variadas
Bendito seja o indeciso
caminhante Narciso
O que é mais nobre para a alma
manter a mente calma
para
eludir a decisão
ou iludir o coração?
Já nem se quer saber
o que vai acontecer
Uma mirada distante
me deixa confiante
para logo me perguntar:
onde mesmo quero
chegar?
Será que perdi o rumo?
Rumino a voz do Rumi
“Continue a caminhar
embora
não haja lugar
pra onde deva ir”
Ali na próxima esquina
talvez uma alma divina
me traga inspiração
para mudar de direção
ou afogar-me em mil e quinhentos
e
tantos outros argumentos
Viva a paisagem humana
da avenida Jatuarana!
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