sábado, 21 de dezembro de 2024

Subindo a Jatuarana

SUBINDO A JATUARANA 

        Devagar, porque não sei
     Onde quero ir Há entre mim e os meus passos 
    Uma divergência instintiva
     Há entre quem sou e estou F Pessoa – A de Campos)

 Vamos então, mana,
 percorrer a Jatuarana ! 
Subir a longa avenida, 
sentir o que há de vida. 
Agora no fim da tarde 
quando o sol já não arde
 
Nestas calçadas estreitas
imprecisas ou mal feitas
conhecer seus vários odores
talvez sentir as dores 
A pessoa fatigada  
que já não sente nada 
É pura anestesia. 
como o  Eliot advertia:
a cabeça na bandeja.
ah, que nunca seja 
uma canção de medo
nem aquela do Alfredo . 

Não, não revelarei segredo 
e nem pretendo fingir 
quero apenas sentir
 a vida tenra e crua 
desta minha rua
 sem missão ou promessa 
nem pressão ou pressa 

apreciar apenas os preços 
de lojas e seus adereços 
Ouvir o chamado de sereias 
“olha as blusas, calças, meias 
- "chegue!”, a moça diz sorridente 
cansada, meio inconsciente 

- Não, agora não preciso 
mas gostei de seu sorriso",

 um perfume de vestido 
me deixa meio perdido 
subindo na contra-mão 
ruas e rimas sem razão? 
Passa um casal apressado 
conversando animado. 

várias vozes, velhas melodias
 nas múltiplas pizzarias
 - Hoje não, na semana que vem 
se eu estiver com alguém. 
Outro rosto anestesiado 
espera o ônibus lotado 

Um cão perambulante 
caminha mais vibrante: 
há um resto de comida 
na sacola esquecida, 
ah, a hora é chegada 
de soltar lixo na calçada,
 
Entre atores e atrizes 
há os loucos felizes 
Imitando uma autoridade 
importante na cidade. 
Sobras de vidas 
ruas varridas vidas variadas 

Bendito seja o indeciso
 caminhante Narciso 
O que é mais nobre para a alma 
manter a mente calma 
para eludir a decisão 
ou iludir o coração? 

Já nem se quer saber 
o que vai acontecer 
Uma mirada distante 
me deixa confiante 
para logo me perguntar:
 onde mesmo quero chegar?
 
Será que perdi o rumo? 
Rumino a voz do Rumi

“Continue a caminhar 
embora não haja lugar 
pra onde deva ir” 

Ali na próxima esquina 
talvez uma alma divina 
me traga inspiração 
para mudar de direção 
ou afogar-me em mil e quinhentos 
e tantos outros argumentos 

Viva a paisagem humana 
da avenida Jatuarana!

Nenhum comentário:

Postar um comentário