M
Nenevé
Sim, ´”é preciso tirar os espinhos da estrada, se não o velhinho
do Natal não vem” dizia minha mãe. Era isso que ouvia quando eu era criança, guri criado no campo.
Morando bem no interior de Santa Catarina, onde nem energia elétrica chegava,
nossa casa era rodeada de pinheiros do tipo araucária, que continuamente
derrubam suas “folhas” isto é os espinhos ou, como diziam alguns, a “grimpa” ou
ainda o “sapé”. A coisa mais triste que poderia acontecer era o Papai Noel não
poder chegar em nossa casa e não poder dar os presentes porque a estrada não
estava limpa, porque havia espinhos no caminho. Então a tarefa dos meninos era
tirar os espinhos que eram obstáculos para o Papai Noel. Depois ainda
passava-se uma vassoura, daquelas feitas de ramos de árvore, a maioria das
vezes de um arbusto chamado “camboim” para deixar tudo bem limpo mesmo. Era uma tarefa árdua, mas valia a pena, pois a
recompensa com certeza viria: o Papai
Noel chegaria sem nenhum obstáculo, sem ferir sem pés nos espinhos.
Hoje depois de tantos e tantos Natais vividos, celebrados,
lembrados sinto que as recordações mais fortes são aquelas da “preparação
para o Natal.” Alguém já disse que o
melhor da festa é a véspera e era isso que a gente sentia. Aquela expectativa
do Papai Noel. A sua chegada era um sonho! Quanta arrumação na casa, quanta
limpeza, quanto tempo investido para tudo ficar bem limpo, bem preparado para que o
Papai Noel aparecesse e gostasse, se agradasse de tudo. Como minha tarefa era “tirar os
espinhos”, amontoá-losem um canto e queimá-los depois, esta é a lembrança que
desce agora firme, mas suave como a chuva que escorre pela janela e parede
nesta véspera de Natal chuvoso em Rondônia.
Esta memorável atividade de limpar o caminho também me
proporciona outra reflexão, me estimula a pensar na metáfora dos espinhos. Que
tipo de espinhos eu tenho que tirar hoje para que o Papai Noel chegue, para que
o espírito de Natal realmente visite meu coração, para que habite mesmo em
minha alma? Quais os espinhos mais duros, mais doloridos, que podem impedir que
o velhinho chegue e não deixe que o Natal aconteça? Às vezes, no decorrer do ano, a gente vai deixando que alguns
sentimentos ruins, algumas revoltas, algumas mágoas se endureçam. Elas se
tornam espinhos se a gente não as eliminar enquanto estão maleáveis...E aí, se deixarmos
o espinho no caminho....não recebemos o bom velhinho. Tirar os espinhos, perdoar o que incomoda, deixar agradável o caminho a perseguir. Aí, sim , o papai Noel e o Natal vem, com certeza.
"Sim, é preciso tirar espinhos". . A chegada da Vida de Esperança, da
Confiança, do Entusiasmo não podem ser
impedida por causa de espinhos na alma, de sentimentos ruins. Sim o
esforço que fizermos para limpar a estrada, para tirar os espinhos, vale a
pena.
Todos temos espinhos, sem dúvida, pois até a Rosa os tem.
Saber achá-los, observá-lo e tirá-los do nosso caminho para que venha o
espírito da paz, da alegria e da harmonia do Natal é a nossa tarefa. E que a tarefa de tirar os espinhos nos ajude a crescer na aprendizagem da vida.
Guajará-Mirim upon Mamore, on the the Christmas
Eve.