sábado, 16 de setembro de 2017

FONTE DA SAUDADE

A FONTE DA SAUDADE

Eu já sei que qualquer dia                                                                                                                            Tudo vai dançar                                                                                                                                                     Mas a fonte da saudade                                                                                                                                    Nem o tempo vai secar...(Kleiton & Kledir)


A fonte da saudade não seca. Ela , aquela mulher feita de muitas mulheres, que trouxe-me muitos sonhos. Ela  é a fonte da saudade, ela que gera lembranças, vontade de voltar ao tempo, de gozar de sua convivência, de olhar para a transformação da natureza como reflexo da transformação que ela me faz ao longo do tempo....
Agora que é tempo de mudança de estação, eu me encho de perguntas, de buscas, de vontade de mudar......Queria estar me metamorfoseando sem sentir dor...Mas sei não há metamorfose sem dor....A PRIMAVERA parece já um convite para  renovar a natureza. E eu aqui sentindo o regar da chuva, observando o ipê florindo, vendo o passarinho correndo para preparar um lar para nova temporada, não consigo olhar para a frente. Apego-me a um passado, ao passado com ela.. Todas as atenções são para quem não está mais aqui comigo, todo o meu pavor se dá por causa do vazio da casa, que foi cheia de sol, mas agora sofre de escurez por sua ausência. Ausência agora me espanta....
Eu poderia ter um novo sentido ao percorrer a casa,  sair para fora, ao ir ao mercado a caminhar...Mas como comprar um peixe para o almoço de domingo sem ela para me acompanhar? Nada pode fazer sentido. O passarinho passa cantando um canto mais lindo, mas para mim é um lamento. Aquela música que ela deixou produziu marcas dela num coração que sente.  Os tons e a melodia...tudo o mesmo. Já não existem, porém, os significados de ontem.
 Como ficar nesta casa num domingo?, dor-mingo, me minguo.... Como fazer um almoço aqui, sem partilha, sem sua parte, seu lado ,  única companhia nos meus domingos?
A minha vontade de escrever , de soltar o grito já não me impulsiona muito, pois não sei como escrever se não tenho uma leitora em potencial que era ela, aquela silenciosa que lia e escrevia e vi certa vez na aula a me contemplar...?. Escrever para quem não me quer ler é como caminhar ao encontro de quem não tem intenção de nos encontrar, ou como dar a mão para quem não quer cumprimentar..
E a noite calma das lembrança vai se espalhando pelo céu.....Vai deixando a alma tempestuosa, desditosa e em confusão profunda...Ir para frente sem olhar para trás, sem ouvir sua chamada, sem esperar por um aceno para voltar? É possível? Seus olhos  já não se encantarão com os meus?  No meio das perguntas a vontade de recomeçar tudo de novo, com paixão, com ela transpirando sonho. Minha inclinação  em  trilhar novo caminho  ainda percorre comigo nas minhas horas de reflexão...

Aí ressoam  ecos do Neruda ,com seu poema , falando por mim: “Vou-me embora. Estou triste: mas sempre estou triste. Venho dos teus braços. Não sei para onde vou.”

(Miguel Nenevé)

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