sexta-feira, 29 de agosto de 2014

Como Poe, poeta louco americano, eu pergunto ao passarinho

Como Poe, poeta louco americano, eu pergunto ao passarinho: Onde está o Belchior? *
                                               Miguel Nenevé
Onde anda o cantor e grande poeta cearense, Belchior?
Estaria ele “sentado à beira do caminho, para pedir carona”?  Não se tem mais notícia deste poeta, que como Poe, é realmente “poeta louco sul-americano”, poeta maldito que faz um bem danado ás artes. Na realidade sua poesia fez bem danado a mim, quando adolescente, longe de casa.
Foi nos tempos de seminário católico quando ouvíamos a Rádio Bandeirantes  que tocava “Apenas um rapaz latino-americano” que aprendi a gostar deste compositor. Com poesia e música ele foi marcando minha adolescência e juventude. Quando percebi que ele “transava a noite no Danúbio azul”, aliás, transava  filosofia, literatura, citava John Done, Castro Alves,  John Lennon, Drummond entre muitos outros, fui percebendo mais a grandiosidade do poeta. Uma vez, já muito fã dele (fã, de fan , de fanático) cheguei a brigar com uma colega que dizia que Caetano era mais poeta. Briga de adolescente que queria defender seu ídolo. E eu dizia  “quem mais poderia escrever coisas como  ‘em New Orleans bandos de negros afins, tocam em bandas , banjos, bandolins, onde jaz meu coração’ ? “.
Muito tempo depois,  já professor de Literatura americana , na Universidade Federal de Rondonia,  em Porto Velho,  tive a oportunidade de encontrá-lo no Hotel Aquarius.  Minha amiga Marilene Proença e eu acabamos almoçando com ele.  No dia seguinte eu levaria a Marilene ao aeroporto e lá estava o Belchior novamente, procurando na pequena livraria alguma coisa para ler. Falei a ele que costumava iniciar  minhas aulas sobre Edgar Allan Poe, recitando Belchior: “Como Poe, poeta louco americano, eu pergunto ao passarinho, o que se faz, And never raven.....”  Ele contou-me como começou a gostar de Edgar Allan Poe, mencionou “The Raven” e citou vários contos que lhe impressionaram.  Ficou de enviar textos, ficamos de trocar e-mails...Porém, nevermore...Depois, soube pela Marilene que ele perdera o avião naquela tarde.  Por medo de avião?
Por onde anda o Belchior agora eu não sei! Será que um fã teria direito de saber?  Faz sol na América do Sul, faz calor, faz poeira. Onde está a rede branca, o cachorro ligeiro... Estará ele fugindo de tudo, fugindo do sonho para a vida, já que “viver é melhor que sonhar” ? Há algum perigo na esquina e é preciso talvez desviar, jogar tudo fora e sair deixar tudo e viver em outras  “ilhas cheias de distâncias” ?

Volte Belchior para falar de coisas novas que também são boas. 

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