Não existe certo, nem errado/ todo mundo tem razão
o ponto de vista é que é o ponto da questão (Caio Gomes)
“Às vezes você tem que se sentir mal, para depois sentir-se melhor”, alguém já disse. É mais ou menos esta mensagem de vida, ou vida na mensagem que eu gostaria de expressar. Há coisas que palavra alguma no mundo pode descrever, a dor por exemplo, o medo, a vergonha. Muitos grandes poetas chegam perto talvez, mas não conseguem medir ou pesar estes sentimentos porque o sentir não se conta com palavras.
Eu nem ouso querer explicar a frustração e desconforto porque são complexos demais, mas quero narrar um desses momentos em que temos sentimentos e nos frustra o fato de não encontrar os vocábulos exatos para que o que nos ouvem ou para possa sentir na medida aproximada o que gostaríamos que sentisse.
No mês passado eu aguardava meu querido Miguel Nenevé no aeroporto de Colorado Strings. Depois de quase dois anos prometendo que viria me visitar eu resolveu “to show up”. Eu estava ansiosa pra mostrar meu mais novo estilo de vida, a cidade e tantas outras coisas. Não tive que esperar muito! De longe reconheci seu caminhar, sua camiseta da universidade e sua mochila verde. Foi muito emocionante reencontrá-lo. Como nos faz sentir bem, estar com alguém que conhecemos e confiamos! Se você já teve esta experiência então poderá saber do que estou falando, porque as palavras... essas eu comecei usar de montão pra contar de como eu estava, minha vida, meu cabelo ..and so on and so forth. Também queria saber de minha mãe do meu pai, dos meus irmãos e irmãs e da família em geral. E como estava seu pai e os seus. Nossa cidade, os cachorros, a inflação se tinham terminado o viaduto e se o novo governador era bom mesmo ou só papo-furado. E da Dilma, claro!
O Miguel sempre muito educado ia respondendo a cada questão e sendo interrompido por mim com mais perguntas, vocês sabem como um assunto leva ao outro! Eu só me distraia um pouco com o GPS que agora é meu companheiro constante sempre que saio da cidade onde moro! Quando finalmente perguntei como havia sido a viagem o Miguel hesitou um pouquinho e meu olhou com uma carinha de desapontamento que eu descrevo como: os olhos parados com pouco brilho, uma leve franzida de nariz e a boca apertada. “foi tudo bem, mas eu tive um problema chato na hora de entrar no país, no Texas”. “Nossa, por quê? Eu perguntei espantada, porque sabia que ele sempre esteve viajando por todos os lados em países diversos e que inclusive já estivera trabalhando nos Estados Unidos”!”Aiai estes americanos ja estão se passando”, comentei desapontada. “Pois é! Foi muito chato porque eles me detiveram por tanto tempo que eu perdi o vôo! “Mas por quê? Interroguei de novo, como se fosse preciso! Esse é um dos meus defeitos, andar interrompendo as pessoas no meio da conversa. “disseram que eu não tinha visto pra entrar nos país, que eu estive muito tempo na Guyana e até que eu me parecia com árabe! Nessa hora eu ri! O Miguel não tem nenhuma pinta de árabe:. Alto, pele branca, olhos verdes, careca e dentro do peso recomendado pelos médicos. Lógico que seria muita ignorância minha dizer que nos países árabes não encontraremos ninguém com estas características, mas quanto ao Miguel dá pra ver logo que ele é descendente destes alemães vindos ao Brasil no século passado... mas os agentes da imigração não sabiam disso e quem sabe nem desconfiem que no sul dos nossos pais há muitos alemãezinhos, polacos, italianos, holandeses e outros mais.
À medida que ele ia me contando eu ia ficando com mais raiva e alimentando a dele também. Mas que absurdo! Que gente mais desconfiada! Que povo sem consideração! “Ainda mais com você que vem a convite da universidade de Nem México para uma palestra, com visto, com número de seguro social, com milhas de referências. Você mostrou seu social security?” “Nao, não me lembrei, mas eu mostrei a carta do pessoal da universidade, expliquei direitinho! “E mesmo Assim? Que eles pensam que são?”
Esse pessoalzinho não tem coração, são frios e tão incompreensíveis” exagerei. “Pois é eu já estava muito nervoso, faziam mil perguntas, ate que veio uma cara lá de dentro, um supervisor e disse que iam me dar um visto especial pra que eu pudesse passar pelo menos um mês no país sem ter problema, e no final me agradeceu e tudo mais, mas eu saí de lá ainda ressabiado porque eu tinha tudo em dia!!!!
Quando chegamos a casa ainda pairava aquele climinha de “ que é isso” e eu comentei que talvez fosse que o visto não era pra trabalho e como a universidade ia pagar pela palestra eles estavam criando caso. O Miguel então considerou esta hipótese, mas mesmo assim a raiva não se dissipava.
Os dias correram como sempre fazem quando “you are having fun” e um pouco antes do seu regresso fomos dar uma olhada na passagem, no passaporte e nos ocorreu averiguar o visto...Oh my gosh!!! “teu visto é de trânsito!!!” Ali estava a “abditae causae”, a causa escondida. “Não tirou o visto pra permanecer no país, apenas pra passar por ele!!!” Era o visto de trânsito quando estava na Guyana e viajava para o Canadá, descendo nos Estados Unidos só para trocar de avião!
“Poxa então...?” “Sim, você teve foi muita sorte!
“Até que tem gente de bem no departamento de imigração dos aeroportos” Que agente legal aquele! Concordamos afinal.
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