Baseado
em texto de Angelo Nenevê
" Escola querida de luz de prazer
Contigo na vida eu só hei de vencer
Um bom estudante eu sou com
prazer
Irei sempre avante, sei ler e escrever"
Este foi um verso que a professora Vani passou. Autoria de
quem? Nem lembro se me falaram o autor...Creio que não... Eu recitei estes
versos. Era um poeminha que elogiava a escola e naquela época a gente não
acreditava muito que a escola era “querida.” Por que querida se tínhamos que
interromper brincadeiras para ir à escola, às vezes brigar com outros alunos?
Por que querida se a primeira professora que tive punha medo na gente com
castigos por pequenas coisas?. Acreditava que a aprendizagem se dava por
medo...”Medo, medo, cada um gosta mais do seu segredo”, já dizia o Belchior. E
eu tinha medo da primeira professora. Seus passos na sala, toc –toc – toc..quando
se dirigiam para o meu lado me faziam tremer na base. Seria um castigo por
algum erro que não sabia que tinha cometido? Ou seria que estava vindo ver se meu
caderno estava limpo, bem arrumadinho e as letras bem bonitinhas?....Às vezes
eu achava que as professoras exageravam no cuidado com a caligrafia e nem
observavam o conteúdo do que escrevia..
A primeira professora também assustava quando ia fazer a “revista”.
Ai de quem estivesse com as orelhas sujas...Além de apanhar era humilhado e
mandado ir ao banheiro para se lavar. E quem era filho da roça que saía direto
do trabalho e ia para a escola? Às vezes até todo enfumaçado daquelas queimadas
nos meses de inverno....Estas coisas faziam com que a escola não fosse
querida....E que eu não estudasse com tanto prazer..
Mas , mesmo não sendo uma escola tão “querida’ naquele dia eu falei bem alto e claro o poema que a
professora me tinha designado. E dizia “um bom estudante eu sou com prazer”
embora tivesse consciência que não era dos melhores. Mas, com certeza, dos
piores também não. Os melhores estudantes eram os “do centro”, os que iam
limpinhos, bem vestidos e bem calçados à aula. Aqueles que até levavam uma maça
à professora (“apple polishers”). Com todas estas lembranças de disparidades, hoje
a gente repensa tudo e conclui que a escola valeu a pena...Que a escola ajudou
a vencer, sim. A escola pode , sim, ajudar a diminuir as injustiças sociais, as
disparidades, tanto econômicas, como sociais. Imagine um mundo sem escola, uma
criança sem direito a aprender a ler e escrever....Agradeço a Dona Vani por ter
me dado a tarefa de recitar este poema.
As professoras eram tratadas de Dona. A gente nem sabia bem
por que Dona ou Doña como no Espanhol. Aliás havia a Dona Doña cujo nome
correto era Adônia, mas que todo mundo chamava de Doña ou, pior ainda Donha....
Dizem que alguns alunos (influência da fronteira castelhana?) falavam Doña Doña. A Doña Doña ou Adonia foi também minha
professora por um período curto.
A Dona Terezinha também me escolheu certa vez para declamar
um poema. Era mais suave e seus passos na sala não me amedrontavam como os
passos da primeira professora. Os poemas geralmente eram para homenagear a
bandeira, a escola, um “herói” brasileiro ou algo parecido. E nos sábado,
sempre havia “homenagem” para algum´´ente querido da pátria ou para um dia "glorioso.". Cantava-se o Hino Nacional,
hasteava-se a bandeira, cantavam canções, recitavam-se versos... Este era o
nosso universo...Universo da Escola...